A falha quanto à comunicação do problema foi confirmada pela diretora-geral do CRA, Beth Wagner, que afirmou que a empresa será multada por conta da agressão ambiental ao Rio Itapicuruzinho. No entanto, disse que os valores serão definidos apenas após a emissão de laudos de análise do centro. Enquanto a reportagem de A TARDE esteve na cidade, técnicos do CRA coletaram amostras da água para a realização de testes, mas o prazo para conclusão não foi informado.
Desconfiança – “Nós não temos as informações necessárias sobre o impacto ambiental causado pela mineração. Recentemente, houve uma audiência pública sobre o assunto, mas nada foi devidamente esclarecido”, queixa-se o presidente da Associação Social de Preservação da Água, Fauna e Flora da Chapada Norte, Paulo Henrique Muricy.
A expectativa é que a atuação do Ministério Público, que, de acordo com o promotor José Jorge Meireles Freitas, instaurou um procedimento para averiguar o vazamento, possa trazer mais informações sobre a atividade de mineração no local.
O vazamento de um produto químico utilizado pela Jacobina Mineração e Comércio Ltda. (JMC) para o sistema de abastecimento de água de Jacobina (a 330 km de Salvador) reacendeu a polêmica sobre as atividades da empresa no município. As dúvidas são geradas principalmente pelo fato de o acidente não ter sido comunicado ao Centro de Recursos Ambientais (CRA), procedimento que é obrigatório.
O derramamento de cianeto de potássio (KCN), usado no processo de mineração do ouro, aconteceu na última sexta-feira, atingindo o Rio Itapicuruzinho, que forma a barragem da Embasa, onde é feita a captação de água para uso da população. O fato também não foi comunicado à Embasa, que foi informada pelo radialista Maurício Dias. “Um funcionário da mina me informou no dia seguinte (sábado). A JMC omitiu totalmente o acontecimento, deixando a população à mercê de problemas sérios”, denunciou o radialista.
Com o aviso de Dias, a Embasa enviou uma equipe até o local e determinou que o abastecimento fosse suspenso durante cerca de 72 horas, tempo para que fosse feita a coleta e exames laboratoriais da água. De acordo com laudos apresentados pelo gerente regional da Embasa, Augusto César Souza Oliveira, o nível de cianeto na barragem é menor que 0,005 mg/l, quando o máximo aceitável é 0,07 mg da substância por litro de água. O que, segundo explicou, significa que não há risco para os usuários do sistema de abastecimento, que foi restabelecido na última segunda-feira.
Os resultados mostram, entretanto, que nas proximidades de onde houve o vazamento de cianeto, a contaminação chegou a 0,020 mg/l, quase o triplo da concentração considerada tolerável. A mineradora, de propriedade da canadense Yamana Gold Inc, nega que tenha omitido informações do acidente. Porém, em nota dirigida à imprensa, a JMC fala apenas de “um vazamento de rocha moída na bacia de contenção da planta de beneficiamento”, sem sequer citar a presença do cianeto.
(Por Edson Borges,
A Tarde/Sucursal Feira de Santana, 05/06/2008)