Desde que foi comunicado do projeto da Braskem de fazer plástico a partir de álcool, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou fã da idéia. Foi informado sobre os detalhes e as perspectivas do projeto durante a inauguração da unidade de Paulínia, dia 25 de abril, e descobriu com esse argumento uma nova forma de fazer a defesa do etanol brasileiro, produzido a partir de cana-de-açúcar.
Naquele mesmo dia, pouco antes de tecer um inflamado discurso a favor do biocombustível nacional, Lula manifestou o desejo de que pudesse concretizar os planos da Braskem, e fez ao menos duas metáforas sobre um carro "com sabor de 51 ou de Velho Barreiro" - marcas de cachaça. Dias depois, antes do anúncio da parceria com a Brinquedos Estrela, a companhia encomendou meia dúzia de unidades de carrinhos de plástico verde produzido na planta piloto de Triunfo. Era uma forma de mostrar que, no futuro, automóveis ecológicos seriam equipados com peças feitas com plástico fabricado a partir de etanol de cana-de-açúcar.
Desde que recebeu uma das peças, Lula não a largou mais. Levou o carrinho até para Roma. No domingo, antes da abertura oficial da conferência da FAO, órgão da ONU de combate à fome, deu entrevista com o carrinho nas mãos. Defendeu que o etanol brasileiro não concorre com a produção de alimentos, ao contrário do americano, feito de milho. Era o que faltava para a consagração do produto que, agora, será fabricado em grande escala no Rio Grande do Sul pela primeira vez no mundo.
100% renovável
Embora já existam plásticos feitos com produtos orgânicos, a diferença do projeto que a Braskem anunciou ontem para o Rio Grande do Sul é ter 100% de matéria-prima renovável e grande capacidade de produção. Uma das maiores vantagens do plástico verde em relação ao tradicional, feito a partir de petróleo ou de gás natural, é o fato de que a plantação de cana-de-açúcar, ao fazer a fotossíntese, retira gás carbônico da atmosfera.
É com o desejo de um grupo de empresas de associar sua imagem a um produto ambientalmente correto que a Braskem conta para formar o mercado consumidor. Segundo o presidente da empresa, José Carlos Grubisich, a característica faz com que esses clientes estejam dispostos a pagar entre 15% e 30% mais pelo plástico verde. Além do tipo de resina a ser produzido no Estado, para fabricar brinquedos e peças de veículos, a Braskem já tem pesquisas para outros, como o usado em sacolas.
Como se faz
- As usinas produzem o etanol a partir da moagem e destilação do líquido extraído da cana-de-açúcar
- A Braskem compra etanol e, por meio de alterações na temperatura e na pressão, desidrata para produzir eteno
- O eteno é transformado em resina
- Essa resina vai para as fábricas de plástico onde é transformada nos produtos de consumo final
Para o seu filho ler
A maioria dos seus brinquedos é feita de plástico. Esse material é produzido a partir do petróleo (assim como gasolina e diesel, que abastecem os carros). Como não dá para fazer mais petróleo, um dia vai acabar. E, como já diminuiu a quantidade, ficou muito caro.
Agora, foi inventada aqui no Rio Grande do Sul uma forma de fazer plástico usando álcool em vez de petróleo. O álcool é feito a partir de cana-de-açúcar, que pode ser plantada várias vezes e, por isso, nunca vai acabar. Por isso, esse material é chamado de plástico verde.
Outra vantagem é que quando se planta cana, as folhas verdes fazem papel de mocinho: capturam o gás carbônico, que é o maior bandido do efeito estufa, esse que aumenta a temperatura da Terra e muda o tempo, como os ventos fortes que têm feito no Estado.
A primeira grande fábrica de plástico verde do mundo ficará perto de Porto Alegre, na cidade de Triunfo. Uma das primeiras coisas que serão feitas com esse plástico ecológico serão peças do jogo Banco Imobiliário, que então será chamado de Banco Imobiliário Sustentável. Depois, virão outros brinquedos, embalagens e até peças de carros.
(Zero Hora, 06/06/2008)