A senadora Marina Silva (PT-AC) disse que o Dia Mundial do Meio Ambiente não deveria ficar restrito à comemoração, mas ser estendido à preocupação, que deve se transformar numa ação prática que leve o Brasil e o mundo a encontrarem uma saída para o dilema civilizatório do século 21.
- Estamos vivendo uma interpelação ética, que diz respeito a como vamos atender às legítimas necessidades das gerações presentes, sem que com isso venhamos a comprometer os reais direitos das gerações futuras. Essa interpelação não se coloca como uma oposição, mas como um grande desafio. Não se coloca também como um problema, mas como uma oportunidade de superarmos os limites a que nós mesmos nos submetemos - afirmou.
Marina lembrou que os alertas sobre o aquecimento global já foram vistos como um exagero de ambientalistas radicais que tentavam aterrorizar a sociedade para obter algum cuidado com a natureza. Hoje, disse a senadora, já se tem certeza dos efeitos nocivos da emissão de gases que provocam o chamado efeito estufa. Ela assinalou que um aumento de temperatura de apenas um ou dois graus poderá levar o mundo a enfrentar conseqüências como a elevação do nível dos mares, a falta de chuvas em várias regiões e a perda de mais de 30% na biodiversidade, levando a uma perda econômica de mais de 20% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
- Há uma diferença entre crescer e desenvolver. Às vezes, o crescimento não é necessariamente um desenvolvimento, porque a idéia de desenvolvimento pressupõe também o estabelecimento de valores, de uma nova visão, de processos civilizatórios que não comprometam os recursos de milhares de anos pelo lucro de apenas alguns anos ou algumas décadas. É esse o desafio que estamos vivendo. Hoje, perdemos biodiversidade mil vezes mais rápido do que há 50 anos - alertou.
Na avaliação da senadora, a equação do desenvolvimento deve comportar a idéia da preservação da natureza, pois as economias dos países em desenvolvimento dependem da sua biodiversidade em torno de 65% a 70% em relação aos seus respectivos PIBs. No caso do Brasil, ressaltou, a dependência em relação ao PIB é de 50%.
- Eu não gosto de dizer que vamos compatibilizar desenvolvimento com meio ambiente. Não acho que essa seja a formulação correta. Na minha percepção, a idéia da preservação comporta em si mesma a questão do desenvolvimento. Porque é impossível imaginarmos o desenvolvimento sem que parta de uma base material em que os recursos naturais estejam nos favorecendo, inclusive com os serviços ambientais que prestam e que muitas vezes nós não consideramos - afirmou.
Marina também observou que não existe falta de legislação no Brasil para combater o desmatamento. O que é preciso, afirmou, é a implementação das leis que já existem; é colocar em ação o que é preciso ser feito. A senadora disse ainda que é perigoso imaginar que é possível desenvolver o Brasil utilizando tecnologias e práticas produtivas do século 19.
- Precisamos, urgentemente, ir na direção da história e não na sua contramão. Estamos nos apegando a modelos ultrapassados do século 19. Vamos fazer o encontro entre tradição e modernidade e sermos capazes de não sacrificar os direitos daqueles que ainda não nasceram. É muito fácil defender os interesses dos que estão aqui. Difícil é defender os direitos dos que ainda não nasceram - concluiu.
(Por Ricardo Icassatti, Agência Senado, 05/06/2008)