O Ministério da Agricultura em Brasília e a sua Superintência em Porto Alegre confirmam que o princípio ativo para fabricação de agrotóxicos imidacloprid, proibido recentemente na Alemanha, é usado no Brasil. “Sim, ele é importado e não existe nenhuma iniciativa para proibi-lo, é considerado um produto de excelente qualidade, moderno”, informaram na assessoria de imprensa do órgão, na Capital Federal, ontem à tarde (05/06).
Principal suspeito, agora, de causar a enorme mortandade de abelhas na Europa, Estados Unidos e América do Sul, o imidacloprid é liberado para uso em culturas como soja, fumo, algodão, arroz, feijjão, algodão, milho, trigo, abacaxi, abóbora, abobrinha, alface e muitas outras, no combate a pragas como pulgão, lagarta, broca-da-cana, mosca-branca e muitos outros. Ao todo, são 17 produtos comercializados com o agrotóxico, 16 deles fabricados pela Bayer em São Paulo e um pela Milenia Agrociências*, em Londrina, no Paraná.
Esta é a lista completa dos produtos com imidacloprid vendidos no Brasil, conforme a relação no site do Ministério da Agricultura: Confidor S, Confidor 700 WG, Connect, Evidence, Gaucho, Gaucho FS, Gaucho 600 A, Kohinor*, Premier, Premier Duo, Premier GR, Premier Plus, Provado 200 SC, Warrant, Winner e Winner 100 AL. Fica a critério do leitor do Rio Grande do Sul decidir se é ironia ou mau-gosto darem nome de Gaucho a um agrotóxico.
“O Brasil só não usa o que não existe, inclusive muitos produtos que já sumiram da listagem de outros países, ainda estão sendo usados aqui clandestinamente”, lamenta o engenheiro químico e especialista em genética Flávio Lewgoy, conselheiro e fundador da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural., a Agapan.
Lewgoy disse que levará o assunto à Câmara Técnica de Agrotóxicos do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), que esteve desativada por muito tempo e foi “ressuscitada”, segundo ele, no início do ano, a pedido de várias entidades. “Vou imediatamente levar essa informação (da proibição do imidacloprid na Alemanha) à Cãmara Técnica dos Agrotóxicos; abastecemos o Consema com pareceres técnicos, embora seja difícil aprovar alguma coisa naquela plenário”.
Ele e os ambientalistas gaúchos têm grandes restrições à composição do Consema, onde o governo e representantes dos interesses das empresas têm ampla maioria. “Velhos problemas que a gente achava que estavam fora do ar estão aí de novo”, desabafou Lewgoy. Foi na luta contra os agrotóxicos que o agrônomo, ambientalista e ex-ministro José Lutzenberger, com Flávio Lewgoy, José Carneiro e outros pioneiros, deram início ao movimento ecológico no Rio Grande do Sul e no Brasil nos anos 70.
Muito tempo depois, este ainda segue sendo um grande problema e uma grande ameaça.
(Por Ulisses A. Nenê, EcoAgência, 05/06/2008)