No primeiro dia de debates sobre o projeto de lei que irá combater o aquecimento global, antes que os Republicanos parassem a sessão ao insistir que o secretário lesse cada palavra do documento de 492 páginas, o senador James M. Inhofe decidiu desabafar. Inhofe, que acredita que os temores de uma mudança climática catastrófica são exagerados, insistiu que não há necessidade de uma argumentação científica porque há outras razões suficientes para se opor à lei, que impedirá a produção de gases causadores do efeito estufa e forçar os poluidores a comprar permissões para a emissão de dióxido de carbono.
Ainda assim, para alguém que não queria falar sobre ciência, Inhofe, foi o único senador a proferir a frase "gases antropogênicos". Ele também queria falar sobre o último inverno em seu Estado e mencionar alguns pontos pequenos de discordância com Al Gore e seus colegas ganhadores do Prêmio Nobel, os cerca de 2,000 cientistas que fazem parte do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima patrocinado pelas Nações Unidas.
"Nós do Estado de Oklahoma tivemos o inverno mais rigoroso dos últimos 30 anos", disse Inhofe. "Eu acho que isso aconteceu em todo o país. Não se pode ter das duas formas". (A maioria dos cientistas afirma que mudanças climáticas anuais são irrelevantes para o efeito a longo prazo do aquecimento global.)
"Uma das coisas boas sobre esse debate é que não iremos falar de ciência", continuou Inhofe. Então, ele atacou o painel do clima da ONU. "Nós falamos sobre 2,000 cientistas", ele disse. "Nós temos uma lista de 30,000 cientistas que disseram, 'Sim, pode haver uma relação entre CO2 e uma condição de aquecimento mas não é grande'".
Em seguida, ele se virou para Gore, o ex-vice-presidente. "Al Gore fez seu filme. Quase tudo em seu filme, de verdade, quase tudo foi refutado. Interessante é que o painel - sobre o nível do mar e outras táticas de medo usadas em filmes de ficção científicas - foi realmente refutado muitas e muitas vezes". O senador John Kerry tentou desafiar Inhofe. "O senador pode concluir?", questionou Kerry.
"Não, não posso", respondeu Inhofe. Mesmo no Senado, onde os membros são conhecidos por preferir falar do que ouvir, a quantidade de discursos unilaterais sobre a mudança no clima foi marcante, com legisladores tanto pró quanto contra a medida argumentando repetidamente sobre o tempo que deveriam usar para o debate.
(Por DAVID M. HERSZENHORN, The New York Times, 05/06/2008)