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desperdício de energia
2008-06-06

Existe pelo menos um aspecto positivo que decorre do aumento do preço do petróleo: paradoxalmente, isso nos enriquece. Quanto mais caro o barril, mais ele revela a importância dos ganhos possíveis por meio das políticas de economias de energia. Estas últimas são as mais eficientes quando se trata de reduzir o consumo de petróleo e de outros combustíveis fósseis: a Agência Internacional da Energia (AIE), no seu relatório intitulado "World Outlook 2006" (perspectivas mundiais 2006), conclui que para estabilizar até 2030 as emissões de gás carbônico -as quais refletem precisamente o consumo de energia-, a participação dos ganhos em eficiência energética será de 65% em relação ao conjunto dos progressos a serem realizados para se evitar a prorrogação da tendência atual. Neste contexto, a nuclear terá uma contribuição de apenas 10%, enquanto a das energias renováveis será de 12%.

Portanto, é neste campo que os dirigentes deveriam procurar as respostas prioritárias para enfrentar o aumento do preço do petróleo. "Investir em economia de energia atualmente equivale a criar o poder aquisitivo de amanhã", resume Matthieu Orphelin, da Agência do Meio-Ambiente e do Domínio da Energia (cuja sigla em francês é Ademe).

Depois do choque petroleiro de 1973, os esforços que foram empreendidos acabaram sendo praticamente abandonados durante os anos 1990: o consumo global de energia entre 1990 e 2005 aumentou em 23% nos países desenvolvidos, entre outros por causa dos transportes e do habitat, dois setores que viram o seu consumo inchar em 37%. É preciso reverter essa tendência. Mas a meta de se economizar energia não se resume a uma solução mágica. Isso pressupõe recorrer a um conjunto amplo e diversificado de instrumentos.

Reduzir os desperdícios
Consumir menos equivale, na maioria dos casos, a reduzir os desperdícios. Assim, diminuir a temperatura de calefação num ambiente interno para 19ºC permite obter ganhos sérios, uma vez que qualquer aumento de 1ºC resulta num aumento de 20% das despesas com calefação. O simples gesto de desligar o seu computador quando este não está sendo utilizado reveste todo o seu sentido quando se sabe que o bilhão de monitores de computadores que existem no mundo consome a mesma quantidade de eletricidade que a Suécia (130.000 gigawatts/hora). Reduzir a quantidade de objetos que requerem energia, além de apagar luzes e equipamentos não utilizados: estas medidas continuam sendo a melhor forma de se economizar energia.

Recorrer aos progressos tecnológicos
Esta é uma fonte essencial de ganhos: as caldeiras de condensação oferecem um melhor rendimento, os detectores de infravermelho acendem as luzes somente se pessoas estiverem presentes, os carros híbridos consomem menos gasolina, os medidores de leitura remota (remote meter-reading system) favorecem uma melhor administração dos picos de consumo elétrico. Boas escolhas técnicas também são importantes. Uma delas é a instalação, para os equipamentos públicos, de centrais de geração múltipla: elas geram ao mesmo tempo calor e eletricidade e garante um melhor aproveitamento das energias utilizadas.

Repensar as tarifas de energia
Só agora o potencial desta estratégia começa a ser explorado. Um primeiro instrumento é o sistema do bônus-malus, que consiste em reduzir o preço dos produtos que menos consomem energia, e em aumentar aquele dos que mais poluem. Desde que este sistema foi aplicado aos automóveis, na Europa, ele encontrou um sucesso surpreendente. As vendas de carros com bônus na França registraram um progresso de 45% no decorrer dos quatro primeiros meses da sua aplicação.

Um outro instrumento é a implantação de tarifas progressivas: quanto mais se consome um bem, quanto mais caro ele se torna. Experiências realizadas com o consumo de água mostram que este sistema, que além de tudo é mais justo socialmente, reduz fortemente os desperdícios. Ele poderia ser ampliado para a eletricidade.

Desenvolver a "ecoconcepção"
Ela visa a reduzir, no momento da sua concepção e do seu desenvolvimento, o peso dos objetos ou o consumo de energia que o seu funcionamento requer. No setor da construção civil, é a arquitetura bioclimática que combina a inércia térmica das paredes, a isolação, a utilização máxima do sol, a vegetação sobre os tetos. Mas a política de eficiência energética não se limita apenas a uma questão de técnica. As disparidades e as utilizações sociais também são importantes.

Privilegiar a organização coletiva
Ela permite privilegiar a utilização em detrimento da propriedade. O melhor exemplo disso são o Vélo'V em Lyon e o Vélib' em Paris, os quais são sistemas públicos de aluguel de bicicletas. O sistema está começando a ser ampliado -timidamente- para o automóvel. As coletividades podem também, por meio dos "planos de deslocamento de empresa", limitar os transportes em automóveis dos seus assalariados. Além disso, a limitação da velocidade a 100 km/h nas auto-estradas seria, segundo a AIE, uma das medidas mais eficientes.

Adotar estratégias em função da distribuição de renda
Este parâmetro é crucial. As famílias mais ricas consomem proporcionalmente maiores quantidades de energia do que a média, conforme demonstrou Christian Brand, um pesquisador na universidade de Oxford. Na amostragem de população que foi estudada, 10% das pessoas -geralmente as mais abastadas- são responsáveis por 43% das emissões de gás carbônico do grupo, ao passo que os 10% das famílias mais pobres produzem não mais do que 0,1% das emissões.

Pensar globalmente as utilizações
Melhorar o isolamento térmico das casas cujos ocupantes devem utilizar seu carro todos os dias para irem trabalhar a 50 quilômetros dali não faz muito sentido. É preciso rever as políticas urbanas e, para o que diz respeito à produção, planejar mudanças de empresas para locais mais adequados, de modo a reduzir os transportes dos seus assalariados.


(Por Hervé Kempf, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 05/06/2008)


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