Queimadas e desmatamento colocam Brasil entre os cinco maiores emissores de gás carbônico do planeta, segundo pesquisa
Foz do Iguaçu - O Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) 2008, divulgado ontem pelo IBGE, mostra problemas ambientais de todos os tipos no Brasil. Poluição do ar, contaminação dos rios e desmatamento de florestas estão no quadro traçado pela pesquisa. O IDS analisou 23 indicadores ambientais, divididos nos temas atmosfera, terra, água doce, oceanos, mares e áreas costeiras, biodiversidade e saneamento.
O desmatamento é o principal entrave ao desenvolvimento sustentável do país, segundo o IBGE. O Brasil ratificou o protocolo de Kyoto e não é um grande consumidor de combustíveis, mas o desmatamento das florestas nativas coloca o país entre os cinco maiores emissores de gás carbônico do mundo - ao lado de China, EUA, Índia e Alemanha.
Somente as queimadas correspondem a 75% de todo o CO2 lançado na atmosfera brasileira. Para Judicael Clevelário Júnior, técnico do IBGE, dentre os “passivos ambientais’’, o mais grave é o desflorestamento. “O descontrole do desmatamento é um problema sério que compromete ambiente, florestas e representa perda de patrimônio biológico. Também compromete a saúde pública.’’
Outro resultado que aponta para a necessidade de acelerar as políticas ambientais no país é o aumento do número de espécies ameaçadas de extinção e o avanço de registro de animais comercializados ilegalmente. Em relação ao tráfico, o IBGE calcula que, anualmente, 38 milhões de animais são comercializados internacionalmente e o Brasil é um dos principais fornecedores, responsável por 10% do mercado. Em 2005, mais de 37 mil animais que seriam comercializados ilegalmente dentro e fora do país foram apreendidos, mais que o dobro do número registrado em 2000.
Iguaçu
Um dos mais graves problemas ambientais detectados no país diz respeito às águas - especificamente aos rios. Nenhum dos rios analisados conseguiu qualidade de água “ótima”, segundo o estudo. Mesmo nesse quadro trágico, o Iguaçu, que parte de Curitiba para o Oeste, rumo às Cataratas, conseguiu ser um mau exemplo. Ficou na lista dos piores do país, em segundo lugar, apenas à frente do Tietê, em São Paulo.
O principal foco de poluição existente nos 1,1 mil quilômetros do Rio Iguaçu está concentrado na Região Metropolitana de Curitiba e adjacências. No trecho entre a capital e o município de Porto Amazonas, o rio é considerado praticamente morto, segundo ambientalistas.
Os vilões do Iguaçu são esgoto doméstico e industrial lançados indiscriminadamente; a chamada carga difusa – dejetos e sujeira que ficam nas ruas e são levados para o rio quando chove – e o lixo. “Podemos encontrar sofá, fogão e garrafa pet no rio”, diz o professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Gobbi. Com base em estudos, o professor diz que 80% da poluição no Alto Iguaçu é gerada por esgoto doméstico e 20% pelo esgoto industrial. A sujeira chega ao rio depois de ser lançada em seus afluentes - os mais comprometidos são o Rio Belém e o Rio Atuba.
Gobbi diz que hoje a recuperação do Rio Iguaçu custaria de US$ 2 a 3 bilhões, mas a Sanepar não tem capacidade para fazer esse investimento, que levaria 20 anos para dar resultado. “O problema é dinheiro, o custo é muito alto”, diz.
O professor ainda critica a descontinuidade de políticas com a troca de governo e problemas de comunicação, que comprometem os resultados na área ambiental. “Quando o governo do estado não tem bom relacionamento com o governo municipal, isso também gera problemas”, salienta.
O ambientalista e diretor da Oscip Gari – Grupo Ambientalista do Rio Iguaçu, Léo de Freitas, diz que amostras da água indicam a presença de um índice inaceitável de contaminação por coliformes fecais no Iguaçu. A Oscip realiza todos os anos expedições para avaliar a condição do rio. Em 2007, foram feitas 10 coletas de água entre Porto Amazonas e São Mateus do Sul, em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), durante a expedição. O resultado não foi animador e apontou a presença de 350 mil coliformes fecais em uma amostra de 100 ml de água. O máximo permitido é de 1 mil coliformes. Em 2006, o índice foi de 50 mil coliformes fecais, o que indica o avanço da poluição.
(Por Denise Paro, Gazeta do Povo, 05/06/2008)