Falta de tratamento de esgoto irrita moradores, atrapalha o trabalho dos pescadores e interfere no turismo e no meio ambiente
Um trecho da BR-101 separa dois lugares de extremo contraste e absoluta semelhança. Enquanto no lado esquerdo do sentido Sul-norte a paisagem é de intensa degradação e pobreza, na outra margem o mar desponta e forma um visual de cinema. A olho nu a diferença é evidente, mas um pouco mais de atenção revela um problema comum que atinge todo o Estado de Santa Catarina: as más condições de saneamento básico das cidades.
A imagem é de Itapema, no Litoral Centro Norte, uma das 31 cidades do Estado que possui rede de esgoto. De um lado está o bairro Morretes, zona com pouca infra-estrutura e com um rio contaminado por dejetos, o rio da Fita. Do outro, uma praia prestigiada por turistas, a Meia Praia, com saneamento, mas onde areia e mar são constantemente invadidos por um líquido malcheiroso.
Situações como essas permeiam o Estado de ponta a ponta, segundo um documento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes). Dados do Instituto Trata Brasil também confirmam o problema, destacando que apenas cerca de 10% de Santa Catarina tem saneamento básico.
Asiim, quem mais sofre, além da população desabastecida, são os rios, que sentem o impacto da ação desinformada ou mal intencionada do homem.
Para o presidente da Fundação de Meio Ambiente (Fatma), Carlos Kreus, a falta de saneamento básico é o problema ambiental mais grave do Estado. Segundo ele, a situação é pior onde há grandes conglomerados urbanos, mas não existe uma estimativa das áreas degradadas pela falta de redes de tratamento. "Somente investimentos pesados conseguem dar conta dessa questão, e acredito que eles vêm sendo feitos", pondera.
O presidente da Abes em Santa Catarina, Paulo Aragão, concorda que a falta de saneamento gera conseqüências ambientais graves. "Somos um Estado extremamente desenvolvido nos mais variados aspectos, mas perdemos muito por conta do esgoto. Nunca houve um foco com relação a esse assunto, o que acaba gerando inúmeros prejuízos e impactos no meio ambiente e na sociedade", afirma.
No levantamento feito pela entidade em 2005, constatou-se que apenas 30 cidades tinham sistema de tratamento de esgoto (veja o mapa na página 14). O número mudou, já que Itapema passou a integrar a estatística. A população com saneamento básico chegava aos 574 mil habitantes, deixando de fora pelo menos 4.300.000 pessoas, somente na área urbana.
Com tanta gente sem o benefício, é fácil constatar onde estão sendo despejados os dejetos não tratados pela rede. São eliminados, diariamente, 280,39 toneladas de esgoto bruto de forma direta ou indireta nos corpos de água. Esse volume atinge rios, córregos, ribeirões, lagoas e mares, destruindo ecossistemas e poluindo a natureza.
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A Notícia, 05/06/2008)