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aracruz/vcp/fibria passivos da silvicultura monocultura
2008-06-05
A relação do biólogo André Ruschi com a transnacional Aracruz Celulose devia, no mínimo, ser transparente. Esta é a observação de um dos ambientalistas capixabas consultados sobre a divulgação de que André assumiu que mantém cooperação com a transnacional, famosa internacionalmente por destruir a mata atlântica e afetar comunidades tradicionais. Para os ambientalistas consultados a respeito da mudança de lado de André, ele cuida exclusivamente dos próprios interesses ao atuar como técnico remunerado da empresa. André é um dos filhos de Augusto Ruschi, patrono da Ecologia no Brasil. Augusto foi grande estudioso da eucaliptocultura e seus impactos ambientais e sociais. Em plena ditadura militar, ele se levantou contra os plantios monoculturais da Aracruz Celulose, que foi instalada no país com favores dos governos federal e do Espírito Santo. O cientista morreu em 1986, aos 72 anos.

A informação de que o biólogo André Ruschi é parceiro da Aracruz Celulose desde 2000 foi feita pelo jornal "Correio Braziliense". O próprio André confirmou que tem "objetivos comuns" com a empresa, em entrevista ao jornalista Lúcio Vaz. Os ambientalistas acreditam que André Ruschi cuida exclusivamente dos próprios interesses, atuando como técnico remunerado da empresa. O único pedido que fazem é que o biólogo tenha uma relação de transparência com a empresa.

O biólogo dá sinais de que está prestando colaboração à Aracruz Celulose há algum tempo, destaca um ambientalista. Cita que, em evento na Assembléia Legislativa, André Ruschi defendeu publicamente que não se deve chamar de "deserto verde" os plantios monoculturais de eucalipto. A expressão foi cunhada pelo próprio cientista Augusto Ruschi.

Outro ambientalista lembra que na última Feira do Verde, realizada em Vitória, o biólogo André Ruschi fez referência expressa ao apóio que recebeu da Aracruz Celulose para sua exposição.

Um dos ambientalistas cita que entre os técnicos que trabalham em órgãos como o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), alguns atuam na defesa da sociedade civil. Mesmo que, profissionalmente, tenham que se sujeitar a trabalhar no órgão, posto a serviço das empresas que degradam o meio ambiente pelo governador Paulo Hartung.

O presidente da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), Freddy Montenegro Guimarães, foi informado da revelação sobre a cooperação de André Ruschi com a Aracruz Celulose e se limitou a informar que André deixou a diretoria da ONG há dois ou três anos. Afirmou que o biólogo atua hoje como consultor da ONG. A Acapema é a mais antiga ONG ambiental do Estado.

Na antevéspera do vigésimo segundo ano da morte de Augusto Ruschi, o jornalista Lúcio Vaz publicou: "...Com o tempo, a Aracruz descobriu que também poderia ter aliados entre os ambientalistas. Durante 10 anos, o biólogo André Ruschi travou uma luta contra a disseminação da cultura do eucalipto no Estado, com distribuição de mudas sem nenhum controle. Hoje, a empresa mantém 105 mil hectares de plantio no Espírito Santo e 98 mil na Bahia. O programa Produtor Florestal da empresa possui um total de 92,7 mil hectares contratados no Espírito Santo, Bahia, Rio e Minas, sendo que 86,9 mil hectares já foram plantados".

E segue: "Coordenador da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), Ruschi entrou com ação civil pública contra a Aracruz, o governo do Estado e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em 1989. 'O estado não tinha uma política florestal. Estava à mercê das empresas que plantavam no estado', lembra. Em 1997, houve um acordo entre todas as partes. Em 2000, o biólogo foi contratado pela Aracruz. "Ajudo a avaliar peças de campanha, faço palestras para escolas", explicou. Questionado se recebe salário ou ganha por contratos, respondeu: "São convênios em cima de projetos. Não é uma venda comercial, é cooperação técnica. Temos objetivos comuns". Ele afirma que a Acapema "não faz críticas porque a Aracruz é multinacional, capitalista. É sensata, ajuizada".

O cientista Augusto Ruschi previu os estragos que a empresa produziria no Estado: desmatamento, perda de biodiversidade, destruição do solo, da água, contaminação da área dos eucaliptais com agrotóxicos, entre outros.

A Aracruz Celulose é famosa por ser de empresário da família Lorentzen (foi criada por Erling Sven Lorentzen, hoje substituído por Haakon Lorentzen), ligada à coroa norueguesa; por produzir matéria prima, principalmente de papel higiênico produzido na Europa, Ásia e nos Estados Unidos da América; e, também conhecida por sua alta rentabilidade no mercado financeiro.

A transnacional Aracruz Celulose é mais famosa, contudo, por ter destruído só no Espírito Santo cerca de 50 mil hectares de mata atlântica primária e toda a sua biodiversidade. Sem contar que a empresa desestruturou e por pouco não aniquilou completamente no Espírito Santo os índios Tupinikim, em Aracruz e a comunidade quilombola do no norte, além de prejudicar camponeses, em todo o Estado.

Doações milionárias

Na reportagem em que dá conta das relações de André Ruschi com a Aracruz Celulose desde 2000, Lúcio Vaz também destaca "as maiores doações" da Aracruz Celulose para as campanhas de políticos no Espírito Santo e na Bahia. São os seguintes os valores:

Paulo Souto (DEM-BA), governador, R$ 780 mil;
Paulo Hartung (PMDB-ES). Governador, R$ 701,5 mil;
Renato Casagrande (PSB-ES), senador, R$ 345 mil;
Gerson Camata (PMDB-ES), senador 250
César Colnaghi (PSDB-ES). deputado estadual, R$ 200 mil;
Fábio Souto (DEM-BA), deputado federal, R$ 130 mil;
Luiz Paulo Vellozo Lucas, deputado federal, R$ 120 mil;
João Coser (PT-ES), prefeito (Vitória), R$ 110 mil;
Jaques Wagner (PT-BA), governador, R$ 100 mil.

No total, essas doações somam R$ 3,036 milhões.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 05/06/2008)

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