Uma cúpula da FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura, pediu na quarta-feira (4) aos países ricos que ajudem a "revolucionar" a agricultura nos países em desenvolvimento, especialmente na África, para que se produza mais alimentos. "A crise alimentar global serve de alarme para que a África se lance em uma 'revolução vede' já há muito atrasada", disse o ministro nigeriano da Agricultura, Sayyadi Abba Ruma, no segundo dos três dias da cúpula.
"A cada segundo, uma criança morre de fome. A hora de agir é agora. Chega de retórica, mais ação!", afirmou o ministro. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, recebeu um abaixo-assinado sobre o tema, com mais de 300 mil nomes. O esboço de declaração final da cúpula diz que os 151 países participantes se comprometem a "eliminar a fome e assegurar comida para todos".
A FAO convocou a cúpula por causa do acentuado aumento de preços nos últimos meses, o que ameaça levar a fome a mais 100 milhões de pessoas - além das 850 milhões que já sofrem com isso no mundo. Nos últimos anos, o preço de produtos como arroz, milho e trigo mais do que dobrou. A OCDE (entidade que reúne países desenvolvidos) estima que haverá um recuo em curto prazo, mas que na próxima década os alimentos podem subir mais 50 por cento.
Ban disse que a cúpula já é um sucesso. "Há uma clara sensação de resolução, responsabilidade compartilhada e compromisso político entre os Estados membros no sentido de fazer escolhas políticas corretas e investir na agricultura nos próximos anos." "A fome degrada tudo contra o que estamos lutando nos últimos anos e décadas. Temos o dever de agir, de agir agora e de agir unificadamente", afirmou o sul-coreano a jornalistas.
O antecessor dele na ONU, Kofi Annan, também está em Roma para assinar um acordo com as agências alimentares da ONU para estimular a produção agrícola na África. "Esperamos promover uma revolução verde na África, que respeite a biodiversidade e as distintas regiões do continente", disse Annan, natural de Gana, que preside a Aliança para uma Revolução Verde na África. O novo mecanismo dará apoio técnico para melhorias no solo e gerenciamento hídrico, acesso a sementes e fertilizantes e desenvolvimento de infra-estrutura nas regiões mais férteis da África.
O ministro nigeriano disse que seu país tem potencial para se tornar "o cesto de alimentos da África". Mas suas lavouras dependem 90 por cento das chuvas, o que as torna vulneráveis às alterações climáticas. E, segundo ele, 14 milhões de pequenos proprietários rurais usam técnicas "rudimentares". A cúpula de Roma ditará o tom das decisões sobre ajuda alimentar e subsídios a serem tomadas na Cúpula do G8, em julho, no Japão. É possível que influencie também as negociações da chamada Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 05/06/2008)