500 mil cortadores perderão o emprego com a mecanização
O destaque dado ao etanol na discussão travada sobre vantagens e desvantagens dos biocombustíveis expôs as condições de trabalho dos cortadores de cana no Brasil e forçou mudanças no setor canavieiro, afirma uma reportagem publicada na edição desta quinta-feira do jornal britânico The Guardian.
"As condições de trabalho dos cortadores de cana eram raramente observadas quando a mercadoria exportada era o açúcar, mas isso mudou agora que o Brasil é o segundo maior exportador mundial de etanol à base de cana", diz o texto.
Intitulado O sol se põe sobre os cortadores de cana brasileiros, o texto destaca a mecanização dos canaviais imposta pelos países desenvolvidos, que estão focados na produção brasileira de biocombustível.
Segundo a reportagem, a substituição do trabalho manual deixaria cerca de 500 mil cortadores de cana sem emprego. "Meio milhão de empregos e cinco séculos de tradição serão eliminados da crescente indústria de cana-de-açúcar brasileira para satisfazer a demanda ocidental por práticas de trabalho mais justas no setor dos biocombustíveis", diz a reportagem.
'Contos'Segundo o texto, o interesse em eliminar a prática dos cortadores de cana esconde ainda mais um "conto" sobre a exploração nos canaviais que já prejudicou a imagem do Brasil em importantes países importadores de biocombustíveis, como a Suécia e a Grã-Bretanha. A reportagem destaca o crescimento da produção de etanol no Brasil em 2007, "com um recorde de 22 bilhões de litros, dos quais 4 bilhões foram exportados".
No entanto, o texto afirma que o "sonho" de aumentar a indústria para exportação de biocombustíveis pode ser ameaçado pelos argumentos dos críticos, que vão além dos "contos" sobre a exploração nos canaviais. "Esse sonho está ameaçado, pois o setor dos biocombustíveis está atolado de argumentos como ‘a comida pelo combustível’ e a idéia de que o aumento no preço dos alimentos pode ser atribuído ao uso da terra para plantação de grãos", afirma a reportagem.
CríticasA matéria do Guardian cita ainda outras críticas à produção de biocombustíveis no Brasil, como os danos ao meio ambiente provocados pelo trabalho manual na lavoura de cana-de-açúcar. O texto cita também as preocupações com o desmatamento de algumas áreas da bacia Amazônica. A reportagem cita alguns argumentos de Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), para rebater as críticas à produção brasileira de etanol.
Ele afirma que os subsídios aos agricultores e biocombustíveis nos Estados Unidos e Europa pode ser a causa do aumento nos preços dos alimentos. Segundo ele, o Brasil não estaria contribuindo para essa crise já que apenas 1% de terra arável é usada na produção de etanol. A reportagem destaca ainda que Jank "é enfático em afirmar que o aumento na produção de etanol não está afetando a Amazônia, indicando que a área seria muito úmida para plantação de açúcar".
(BBC, 05/06/2008)