O Conselho Indígena de Roraima (CIR) estima que 10.500 índios estejam isolados na terra indígena Raposa Serra do Sol (RR), desde que os arrozeiros queimaram as pontes dos igarapés Araçá e Araujinho. A partir de então, tornou-se impossível passar pelo leito de ambos devido ao aumento das chuvas na região que fez transbordar os dois cursos d’água.
De acordo com denúncia do líder indígena Jacir José de Souza, ex-coordenador do CIR e morador da comunidade Maturuca, a força da água levou o desvio de piçarra feito pelo governo estadual que passava pelo leito do rio. “Fizeram o desvio, colocaram umas pranchas que ainda dava pra passar, mas agora a água levou tudo”, informa.
O Conselho Indígena está preocupado com o atendimento emergencial à saúde nas comunidades, já que a rodovia interditada impede a remoção de pacientes em estado grave para o Hospital do Índio, em Boa Vista.
“Hoje mesmo, equipes da Funasa [Fundação Nacional de Saúde] que iam para uma reunião sobre saúde em Surumu tiveram que retornar. É um crime o que os arrozeiros fizeram. Parentes nossos podem morrer porque a ambulância não passa depois que a ponte foi queimada e o rio encheu”, critica Jacir.
Atualmente para chegar à região de Surumu só é possível de avião, ou fazendo o percurso pela balsa do Passarão, que é controlada pelos arrozeiros, sendo que a distância aumenta em aproximadamente 80 quilômetros. Outra possibilidade é pelo município de Normandia, que pode demorar até um dia de viagem.
O fornecimento de merendar escolar também está comprometido. Até o meio dia de ontem (3/6), segundo o motorista Eliésio Peres Ribeiro, dez carros e um ônibus tiveram que retornar do igarapé do Araçá.
“Quem tentou passar usando uns pedaços de pau correu grande perigo. Vi um médico passar o maior sufoco ao atravessar o igarapé junto com uma enfermeira. Depois ele seguiu viagem na carroceria de um caminhão que estava do outro lado”, informa o motorista.
Jacir de Souza acrescenta que solicitou às “autoridades federais uma solução para o problema, além da punição aos 'terroristas' que tocaram fogo na ponte”. Segundo ele, o trabalho da Polícia Federal, responsável por garantir a segurança na Raposa Serra do Sol está prejudicado devido a destruição das pontes.
(CIMI, 04/06/2008)