Com a construção de uma nova fábrica na unidade de Guaíba, que deve entrar em operação em 2010, a produção de celulose branqueada de eucalipto da Aracruz irá praticamente quadruplicar. As atuais 450 mil toneladas fabricadas por ano serão aumentadas em mais 1,3 milhão de toneladas, totalizando 1,8 milhão de toneladas. Para suprir a nova demanda, a base florestal também teve de ser ampliada em mais 120 mil hectares, totalizando 164,5 mil hectares de efetivo plantio, além de outros 90,5 mil hectares de reservas nativas destinadas à preservação permanente e reserva legal. Os municípios com plantações, concentrados na Metade Sul do Estado, passaram de 24 para 36.
Em função do aumento da produção, a Aracruz criou uma nova sistemática logística para o abastecimento da fábrica com a matéria-prima e para o escoamento da celulose pronta. Diversas alternativas foram analisadas para definir o modelo logístico que seria implantado. "A logística representa 50% a 60% do custo do produto final, um valor bastante expressivo. Por isso, estudamos as melhores alternativas, os modais mais eficientes, econômicos e que causassem menor impacto ao meio ambiente", destaca o gerente de desenvolvimento da Aracruz, Otemar Alencastro.
Na logística de abastecimento da unidade industrial serão utilizados os modais rodoviário e hidroviário. Para viabilizar este transporte, a empresa pretende investir na construção de três terminais fluviais: em Rio Pardo, Guaíba e, num segundo momento, em Cachoeira do Sul. Também pretende construir um terminal marítimo em São José do Norte para o escoamento da celulose para o exterior. A construção do terminal portuário de Rio Pardo está prevista para 2009, depois de aprovado o licenciamento ambiental, em andamento. Cerca de 10 mil toneladas de toras de madeira, o equivalente a 50% da principal matéria-prima, será levada de caminhão dos hortos florestais até o terminal de Rio Pardo.
De lá, a carga será transportada pelo rio Jacuí até o terminal de Guaíba, junto à fábrica, por barcaças. Alencastro explica que a Aracruz decidiu explorar a hidrovia, em função do custo, mais barato. "Com um litro de combustível e uma tonelada de carga um caminhão percorre 25 quilômetros. Já um trem anda 86 quilômetros, enquanto um barco percorre 219 quilômetros. Isso significa que com a mesma quantidade de combustível, um barco faz 10 vezes o trecho percorrido por um caminhão. Então resolvemos aproveitar essa diferença de quilometragem".
Alencastro afirma que uma equipe multidisciplinar da Aracruz estudou todas as possibilidades de transporte de madeira durante três anos. A análise mostrou que o transporte rodoviário teria o mesmo custo, se comparado com os modais ferroviário e hidroviário, em função do sucateamento das malhas hidroviárias e ferroviárias. "Para movimentarmos a carga tanto por ferrovia quanto por hidrovias precisávamos fazer muitos investimentos em infra-estrutura. Na hidrovia, os terminais portuários não estão em condições de serem utilizados, o canal está assoreado, as eclusas estão sem manutenção e não há sinalização. Então seriam necessários investimentos muito elevados", conta Alencastro. Apesar disso, a Aracruz decidiu investir na hidrovia, pois acredita que, a longo prazo, o uso da hidrovia será viável. Além disso, a empresa já possui experiência de cabotagem marítima nas unidades da Bahia e Espírito Santo.
Alencastro conta que o fator ambiental também pesou muito na escolha, pois cada barcaça, com capacidade para duas mil toneladas, substituirá 40 caminhões.
"Considerando o ciclo das embarcações, 150 caminhões por dia deixarão de circular nas rodovias", diz. A opção pela cidade de Rio Pardo para a construção do terminal de cargas, também foi amplamente analisada. Outros dez locais foram avaliados antes da escolha, mas Rio Pardo foi o que apresentou o menor risco associada à melhor vantagem econômica. Alencastro destaca que a hidrovia do Jacuí está subutilizada, e o volume diário de 10 mil toneladas que a Aracruz pretende transportar representa um acréscimo de 25% na movimentação atual.
Para receber a carga movimentada pela hidrovia, a Aracruz implantará um novo terminal em Guaíba e ampliará o já existente para o escoamento da celulose. Num segundo momento, depois de avaliado o desempenho da logística hidroviária, Cachoeira do Sul também poderá receber um terminal portuário para transporte de madeira até Guaíba. "Essa obra vai depender muito das condições da hidrovia. Nós pleiteamos junto ao governo do Estado, que os investimentos no rio Jacuí sejam feitos até Cachoeira do Sul. Esperamos que a hidrovia seja dragada, sinalizada e que tenha um carta naútica. Desta forma os riscos ficam minimizados para o investimento em um terminal", afirma Alencastro. A distância média dos plantios para a fábrica de Guaíba será de 120 quilômetros.
Para a movimentação da carga até a fábrica está prevista a utilização de oito barcaças que medem cerca de 85m x 12m, conduzidas por seis empurradores de 20m x 11m, em um calado de 2,5 metros. A velocidade média é de 10km/h e capacidade média de movimentação de 2,5 milhões de toneladas por ano. Alencastro explica que o modelo das barcaças não é definitivo. "Estas especificações são de um projeto de referência que foi entregue ao mercado para uma concorrência. Em 90 dias teremos o vencedor que poderá alterar o projeto". O contrato é de 20 anos e a empresa vencedora além de fornecer o barco, também prestará o serviço de movimentação da carga.
Obras em São José do Norte e em Rio Pardo ficarão prontas junto com a nova fábrica
Na logística de exportação, além das obras de ampliação e modernização do terminal de Guaíba, a Aracruz construirá um terminal marítimo em São José do Norte, em um área de 64 hectares, dos quais apenas a metade será ocupada inicialmente. O acesso de cargas ao terminal será feito por hidrovia, através de barcaças que farão a rota Guaíba-São José do Norte. Na primeira fase, o terminal de São José do Norte utilizará cerca de 105 navios/ano, com uma consignação média de carga de 18 mil toneladas.
A estrutura a ser erguida no local seguirá os padrões adotados em países como a Finlândia, garantindo uma maior eficiência no serviço. As instalações serão compostas por um berço de atracação, retroárea, prédios administrativos e sistemas de apoio. Para garantir o acesso dos navios que farão a exportação da celulose, será necessária a abertura de um canal de aproximadamente dois quilômetros de extensão com 200 metros de largura e profundidade de 14 metros, resultando em um volume a ser dragado de cerca de 2,1 milhões de m3. O projeto dessa dragagem está sendo desenvolvido pela Superintendência do Porto de Rio Grande ( SUPRG) e, o EIA-Rima necessário está em fase inicial de desenvolvimento por parte da Aracruz.
Para garantir um transporte de celulose com um maior rendimento, eficiência e menores custos, também será realizado um aprofundamento do canal que liga o terminal de Guaíba ao Canal do Leitão (próximo ao município), num percurso de 3,2 milhas náuticas, dos atuais três metros para 4,5 metros de calado, significando um volume de dragagem de aproximadamente 536 mil m³. O projeto para o aprofundamento foi realizado pela Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) e já se encontra em fase de licenciamento ambiental. A previsão do período e execução dessa obra após o licenciamento é de seis meses.
Em Guaíba, a celulose é expedida em fardos de duas toneladas, manuseados de dois em dois, por empilhadeiras de sete toneladas de capacidade, responsáveis pela estocagem e a retirada do armazém. O carregamento das barcaças é em lingadas de 16 toneladas, que chegarão à barcaça em carretas especiais, com capacidade para 32 toneladas em duas lingadas. O cronograma das obras de Rio Pardo e São José do Norte deve acontecer em paralelo com as obras de construção da nova fábrica para entrarem em operação juntos.
A Aracruz também projeta melhorias na infra-estrutura rodoviária. Como 50% da madeira proveniente dos municípios que compõem o horto florestal será transportada de caminhão até a unidade industrial, a Aracruz está pleiteando ao governo do Estado algumas obras. Uma delas é a construção de uma terceira pista na BR-116 entre o trevo da BR-116 com a BR-290 e Guaíba, onde hoje já circulam 100 caminhões por dia apenas com carga da Aracruz. Com a nova fábrica, este número deve aumentar em mais 50%.
Alencastro explica que está prevista no projeto das concessionárias das duas rodovias a ampliação da pista. "Nós estamos batalhando para que estas obras sejam antecipadas", afirma. Outras obras importantes e projetadas pela Aracruz são o asfaltamento da RS-703 e o da ligação municipal entre Guaíba e Barra do Ribeiro (município onde situa-se o viveiro de mudas e o maior horto florestal da empresa no Rio Grande do Sul), a abertura do acesso alternativo da BR-116 ao site industrial em Guaíba, a construção do novo trevo de acesso a Guaíba (já em andamento), construção de rotatórias e trevos de acesso nas BRs 116 e 290 e adequação dos Planos Diretores Urbanos nos municípios envolvidos.
Alencastro diz que "a central de resíduos da Aracruz está situada na RS-703. Reciclamos 99% dos resíduos da fábrica. A rodovia é bem estratégica para aliviar o tráfego. A gente está pedindo o asfaltamento de Guaíba à Barra do Ribeiro porque a rodovia faz ligação como o horto florestal da empresa, e também porque pretendemos instalar algumas oficinas de prestação de serviços em Barra do Ribeiro.
Gastamos US$ 9 milhões a US$ 10 milhões por ano na manutenção dos equipamentos da fábrica. Com a expansão, vamos gastar cerca de US$ 45 milhões".
(JC-RS, 05/06/2008)