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eucalipto no pampa Votorantim
2008-06-05

A instalação da fábrica de celulose da Votorantim na região de Rio Grande está longe de ser unanimidade. Na década de 80, a empresa Aracruz Celulose já tentou implementar uma indústria, mas a iniciativa foi barrada pela população local e pelas próprias prefeituras. No entanto, a situação hoje é bem diferente, como avalia o ambientalista Luiz Rampazzo, integrante do Centro de Estudos Ambientais (CEA).

Em entrevista a seguir, ele aponta que o incentivo do governo estadual e da mídia, que tem ganho bons patrocínios, são essenciais para criar na população a visão de que uma fábrica de celulose irá alavancar a economia no Sul gaúcho. Ao mesmo tempo, o ambientalista denuncia que os impactos sociais e ambientais são escondidos pelos poderes e pelos veículos de comunicação.

Qual é a diferença da tentativa da Aracruz se instalar na região na década de 80 e da instalação da Votorantim hoje?
O que essas empresas fizeram foi o que a gente chama de recuo estratégico. Elas saíram de em torno de 10 para mais de 40 municípios da região plantando pínus e eucalipto, principalmente, para agora no final do século 20/ início do século 21 vir com toda a carga, mas com uma estratégia toda diferente. Se no final dos anos 80 nós tínhamos apoio da mídia tradicional, dessa vez a mídia está sendo toda patrocinada com muita propaganda por essas empresas, a Votorantim, a Aracruz e a Stora Enso.

Também com muito dinheiro tanto nas universidades públicas quanto nas privadas e também com estratégias de convencimento da sociedade com discursos que consideramos ultrapassados, como aquela visão tecnicista de que se vier a causar poluição, ela é resolvida com tecnologia, sendo que nós achamos que não. E dizendo que a monocultura de eucaliptos, que na verdade eles desejam plantar 1 mi de hectares contínuos nessa região toda, isso não vai trazer impacto ao meio ambiente quando nós temos certeza que sim.

Não somente em relação aos regimes climáticos da região como problemas que teremos com a água doce subterrânea e também a ocupação de grandes áreas que podiam estar sendo usadas para plantio de alimentos e não de eucalipto. Toda essa estratégia também foi calada com o interesse de colocar um pólo de celulose, que agora a Votorantim anuncia que deve ser entre os municípios de Rio Grande e Arroio Grande. Municípios que também são ambientalmente sensíveis e lindeiros à Lagoa Mirim.    

Como se dá a aceitação dos governos locais à fábrica?
O que há por parte dos governos municipais aqui da região é que chamaram todos os prefeitos. O diálogo do governo do Estado foi no seguinte sentido: seja qual for o município em que se instalará a fábrica, essa cidade ficará com 50% do ICMS e os outros 50% será repartido entre os municípios que terão plantio de eucalipto. Quer dizer, nesse convencimento de que os prefeitos da região deveriam se unir para que esse projeto viesse para cá, o que realmente acabou acontecendo. Todos os prefeitos, de uma forma de outra, o que não aconteceu na década de 80, lutando para que esse empreendimento viesse para cá. Claro, com o aval do governo do Estado.

Nós tivemos aí o zoneamento ambiental da Fepam, a primeira versão que foi desprezada pelo governo do Estado, tanto é que caiu a presidenta da Fepam da época. Com a nova direção vieram as alterações, que deixaram o zoneamento muito ruim. É muito técnico e deixa praticamente para cada região decidir o que fazer, o que é preocupante. Já temos um problema grave de fiscalização por parte do governo do Estado, que praticamente não fiscaliza ambientalmente quando nenhuma empresa. E claro, por trás disso estão os prefeitos e as empresas. São sempre os mesmos que ganham com esse tipo de empreendimento.

Que impactos ambientais podem trazer uma fábrica de celulose na região de Rio Grande?
A nossa grande preocupação é que o regime de ventos aqui na região, com certeza o famoso 'cheiro de ovo podre' que uma fábrica de celulose elimina, nós vamos ter esse comprometimento com a qualidade do ar. Segundo, que uma fábrica de celulose usa uma grande quantidade de água doce para fabricar a pasta de celulose. Na verdade, eles vão fabricar muito pouco papel, a maior intenção é fabricar a pasta de celulose para exportação. E com isso, nós teremos grande utilização de água doce e os dejetos, embora eles alegam que seja tratados mas a gente observa pela fábrica de Guaíba [Aracruz] que nós temos uma má qualidade da água ali na região, esses lançamentos com certeza serão feitos em meios hídricos aqui na região.

Se forem instalados em Rio Grande, eles deverão buscar um emissário que vai rasgar o continente e vai buscar a Praia do Cassino. Se for em Arroio Grande, isso vai acabar comprometendo a Lagoa Mirim e o Canal São Gonçalo, porque são locais onde a água, de uma forma ou de outra chega no Canal São Gonçalo, de onde entra no Rio Pelotas, chamado de arroio aqui na região, que hoje tem uma transposição que faz com que a água seja jogada ao Canal Santa Bárbara, local de onde boa parte da população se alimenta. Essa água é recolhida pelo órgão aqui do município, o Sanep, e depois tratado.

Você fala bastante na poluição que a indústria de celulose pode gerar nos mananciais hídricos. Que substâncias podem afetar o meio ambiente?
Nós temos estudos que mostram que um pólo de celulose libera diversos compostos químicos, tanto no ar quanto na água. Os compostos químicos liberados na água acabam interferindo em toda a cadeia trófica. São compostos químicos do fabrico, então temos resíduos de chumbo, de enxofre, diversos outros produtos químicos que acabam se combinando no ambiente e trazendo problemas principalmente de mutações de animais - que acabam servindo para alimentação humana - e conseqüentemente de câncer. Essa é uma preocupação que não vem de agora, como já disse já houve uma reação popular lá na década de 80. E agora eles vêm com um novo discurso, incluindo o de geração de empregos. Os empregos que um pólo desses proporciona é muito menos do que eles alardeam.

(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 30/05/2008)


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