Às vésperas de anunciar o endereço de sua nova fábrica de " polietileno verde " , produzido a partir do etanol, a Braskem busca entre as montadoras de automóveis uma parceria para o fornecimento em escala dessa resina. Segundo o diretor de Relações Institucionais da empresa, Marcelo Lyra, a idéia inicial é que seja criada uma linha especial de veículos, cujas peças de plástico tradicional, de origem fóssil, seriam substituídas pelo plástico verde.
Os planos, entretanto, não param por aí. Mais adiante, a Braskem quer propor à indústria automobilística a troca do metal pelo plástico verde em uma série de peças, como tanque de combustível, duto de admissão do tanque, pára-sol, entre outras. O passo seguinte, segundo Lyra, seria o desenvolvimento de uma resina verde específica para a fabricação de portas, capô, porta-malas e pára-choques. No entanto, para este segundo caso, seria necessário um projeto de carro específico, esclareceu o executivo.
E as montadoras parecem estar animadas com as novas possibilidades. O especialista em materiais da SAE Brasil (entidade que representa os engenheiros da indústria automotiva), José Barbosa, afirma que o setor já tem estudos avançados sobre o aumento da utilização do plástico nos automóveis. Ele citou aplicações além das mencionadas pelo executivo da Braskem, como engrenagens, tampa de cabeçote, tampa de cárter, barras de torção, molas helicodais e molas semi-elípticas.
Também garantiu que as montadoras já examinam a utilização do plástico na fabricação de portas, capô e porta-malas. Segundo ele, testes deste tipo já foram realizados e os resultados " foram muito bons " . Barbosa disse que, hoje em dia, o custo de produção do plástico fóssil, diretamente atrelado ao preço do petróleo, ainda torna a utilização na cadeia automotiva pouco interessante. Porém, a chegada da resina verde poderia ajudar a equilibrar essa equação, segundo ele.
Atualmente, alguns automóveis já contam com pára-choques e pára-lamas revestidos em plástico, porém com uma estrutura de aço por trás, chamada de " alma " . O especialista acredita, no entanto, que entre 2012 e 2013 essas peças já poderão ser totalmente de plástico.
No último final de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva circulou pela Europa carregando a tiracolo um carrinho produzido com plástico verde da Braskem. Segundo Lyra, a idéia do presidente é promover o etanol por meio de um objeto que simboliza as diversas possibilidades de aplicação do produto, desde o uso como combustível até a fabricação de peças de automóveis.
O executivo informou ainda que as primeiras substituições do plástico comum poderiam começar já em 2010, quando a fábrica da Braskem inicia a produção de 200 mil toneladas anuais da resina verde. Lyra adiantou ao Valor Online que o endereço da nova unidade deverá ser anunciado ainda nesta semana. Estão no páreo os Estados da Bahia e do Rio Grande do Sul, onde ficam os pólos da companhia.
É consenso entre Lyra e Barbosa que a grande vantagem do uso de peças plásticas nos automóveis é a redução do peso dos veículos, que resulta em menor consumo de combustível e emissão de poluentes. O especialista da SAE Brasil, entretanto, faz questão de salientar a necessidade de que o plástico a ser utilizado nos veículos possa ser reciclado. " Se não for dessa forma, cai por terra todo o apelo ambiental dessa utilização " , afirmou Barbosa.
(Por Murillo Camarotto e Marli Olmos, Valor Econômico, 04/06/2008)