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hidrelétricas do rio madeira conama hidrelétrica de jirau
2008-06-05
O requerimento que pede esclarecimentos sobre o processo de Licenciamento das Usinas Hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, será novamente apreciado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão consultivo e deliberativo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que dispõe sobre a política ambiental.  O requerimento foi submetido à aprovação do Conama no dia 25 de abril, mas gerou polêmica e acabou não sendo votado por falta de quorum.

A polêmica na última reunião aconteceu por causa da forte pressão que o requerimento sofreu por parte de dirigentes e assessores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e do Ministério do Meio Ambiente. Decidiu-se, na ocasião, que o documento passaria por modificações e seria votado em junho.  "O documento não passou por nenhuma mudança substancial.  Alguns termos que estavam sendo considerados acusatórios foram substituídos", explica a pesquisadora na área de energia Telma Delgado Monteiro, uma das autoras do documento.

Telma explica que foram acrescentadas perguntas específicas à Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Ibama e MMA, referentes a algumas das questões mais contundentes, além de acrescentar no anexo a fundamentação dos argumentos.  O requerimento será apresentado na próxima reunião do Conama, nos dias 17 e 18 de junho.

Requerimento

Além de Telma, o requerimento foi elaborado pelos conselheiros do Conama Luis Carlos Maretto, da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, e Zuleica Nycz, da Associação de Proteção ao Meio Ambiente (Apromac).  O documento teve base na Ação Civil Pública ajuizada pela organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.

De acordo com Zuleica Nycz, faltam informações no processo de licenciamento, e é sobre elas que o requerimento questiona.  "Várias organizações e especialistas indicaram a existência de inúmeras lacunas não esclarecidas, o que nos faz deduzir que houve irregularidades nesse processo", diz.

Para Zuleica, a principal dúvida é a de que a licença foi dada sem a comprovação da viabilidade ambiental.  "A própria equipe técnica do Ibama atestou a inviabilidade do empreendimento, recomendando novos estudos, mas estas recomendações não foram acatadas pelos funcionários que emitiram a licença.  Tudo leva a crer que a licença foi dada por pressão política e não com fundamentação técnica", explica.

Ela recorda a ausência de aprofundamento dos estudos relacionados à questão indígena, colocando em risco a sobrevivência de povos isolados.  Segundo Luis Carlos Maretto, em entrevista ao site Amazônia.org.br, a instalação do complexo desconsidera a existência de diversos grupos de índios isolados na região.  O requerimento questiona especificamente a Funai em relação à não inserção dos impactos em terras indígenas nos estudos das usinas do rio Madeira.

Complexo Madeira

O Complexo Madeira compreende duas usinas hidrelétricas, Santo Antônio e Jirau, que juntas pretendem gerar 6.450 megawatts, aproximadamente metade da usina hidrelétrica de Itaipu.  Santo Antônio está a seis quilômetros de Porto Velho, e Jirau, a 150 quilômetros.  Com a hidrelétrica, uma área de mais de 50 mil hectares será alagada, atingindo diretamente cerca de 5 mil famílias.

A construção das hidrelétricas sofre forte pressão por parte de movimentos sociais e ambientalistas, devido aos impactos que o empreendimento causa ao meio ambiente, às comunidades locais e povos indígenas.  Apesar disso, o governo já promoveu o leilão de Santo Antônio, vencido por um consórcio liderado por Furnas Centrais Elétricas, e de Jirau, vencida pelo consórcio liderado pelo grupo francês Suez Energy, que após vencer o leilão anunciou a proposta de mudar o local de construção da usina.

Para os autores do requerimento, a licença não dá respaldo para a construção da usina em um local diferente.  "Fomos surpreendidos por essa notícia e lançamos uma nota à imprensa através do GT Energia, do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais.  Estamos acompanhando os desdobramentos do caso com interesse.  Se o licenciamento não iniciar do ponto zero, é um desrespeito aos Princípios subjacentes à Política Nacional de Meio Ambiente", explica Zuleica.

Conama

As expectativas em relação à próxima reunião do Conama é de que o documento seja aprovado.  "Procedemos conforme combinado entre todas as partes, e até mesmo apresentamos previamente a segunda versão aos conselheiros mais reticentes.  Como não recebemos nenhum comentário a favor ou contra o teor do requerimento, quero acreditar que não teremos maiores dificuldades para aprovar o documento", explica Zuleica.  Telma Delgado concorda.  "É esse a atitude que denotaria a transparência do Conama e acreditamos que essa oportunidade pode ser um momento histórico para os ambientalistas e para a própria instituição", conclui.

(Amazonia.org.br, 04/06/2008)


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