Embora o alto preço de um produto seja indicativo de sua escassez e devesse contribuir para a redução do seu consumo, para a maioria das commodities este dogma não tem funcionado.
A ameaça a santuários ecológicos e regiões ainda virgens do planeta cresce na proporção direta da cotação do petróleo e de alguns minerais, pois altos preços tornam viável a prospecção de óleo, gás e minérios nos mais inóspitos recantos, como o Ártico, onde se delineia uma disputa pelas generosas reservas de hidrocarbonetos lá existentes.
A exploração das recém-descobertas jazidas de petróleo nos reservatórios abaixo da camada de sal da costa brasileira não seria rentável há alguns anos, assim como a extração de óleo dos gigantescos depósitos de areia betuminosa do Canadá, mas os preços, bem antes dos atuais US$ 135 dólares por barril já justificavam a ordenha do óleo das areias de Alberta, cujo betume os índios usavam para impermeabilizar canoas.
As areias canadenses são uma mistura de água, areia e óleo pesado, rico em enxofre; reservas tão vastas que podem ser consideradas seis vezes maiores que as da Arábia Saudita. O custo de extração é de aproximadamente US$ 27 por barril, e a Shell pretende extrair 500 mil barris diários durante pelo menos cinqüenta anos.
Quando as operações estiverem a todo o vapor, serão retirados 3,5 milhões de barris diários, com investimentos de US$ 125 bilhões nos próximos quinze anos. A tecnologia atual, no entanto, só permite a recuperação de dez por cento das reservas; mesmo assim, a produção atual em Alberta já equivale à do Kuwait.
O busílis ecológico é o processo de extração do óleo, que demanda muito calor, com a queima de enormes quantidades de gás natural e água, na medida de um barril de gás e outro de água para dois de cru. Efeito colateral, a chuva ácida está acabando com a vegetação, especialmente árvores.
A água, retirada diariamente do Rio Atabasca, suficiente para abastecer um milhão de pessoas, embora reciclada, não se presta ao consumo; é depositada em lagos artificiais tão grandes que visíveis do espaço. Parte desta água é contaminada por metais pesados e hidrocarbonetos carcinogênicos.
A partir de 2003, com o aumento dos preços do petróleo, o Oil & Gas Journal reconheceu a viabilidade das areias canadenses, colocando o país em segundo lugar em reservas totais, atrás apenas da Arábia Saudita (Oil & Gas Journal, 2004).
O Conselho Nacional de Energia do Canadá projeta uma produção de cerca de três milhões de barris diários em Atabasca entre 2006 e 2015.
Não obstante a preocupação da população com o exorbitante custo ambiental da atividade, o governo de Alberta, animado pelos números de 2001, quando o óleo extraído das areias chegou a 271 milhões de barris, enquanto o que foi obtido por extração convencional não passou de 264 milhões (Canadian Centre for Energy Information, 2002-2003), propõe uma área total de mineração de 280 mil hectares.
Mas há outra fronteira ameaçada pela alta das cotações de commodities.
O leito marítimo tem grande concentração de ouro, prata e cobre, além, claro, de petróleo. Por enquanto, só este está ao alcance dos homens. Mas o que será quando começar a mineração subaquática?
Já existem protótipos de equipamentos de mineração submarina para extração de metais depositados nas proximidades de fissuras vulcânicas no leito oceânico, na linha de frente da emergente indústria de extração mineral submarina, o que faz soar o alarme para ambientalistas e cientistas.
Ferramentas já existem capazes de operar à profundeza de 1.700 metros, o que não é pouco, e deverão entrar em operação em 2010, no Pacífico.
O início das atividades dos equipamentos, que extrairão minérios com teores metálicos muito maiores que os retirados de terra firme, proporcionará grandes lucros em tempos de commodities com preços na Lua.
Aproveita-se a tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas desenvolvida durante décadas, ao custo de bilhões, para novos objetivos, os depósitos dos chamados polimetais, que contêm ouro, cobre e prata.
O primeiro sítio de prospecção fica nas águas territoriais de Papua Nova Guiné, e já há licenças de operação em Tonga, Fiji e Nova Zelândia, locais escolhidos por causa de sua proximidade com regiões de atividade vulcânica, às margens de placas tectônicas.
Os depósitos de polimetais são formados a partir da água marinha aquecida. À medida que ela passa pelas rachaduras das placas, absorve enxofre e torna-se ácida; atinge temperaturas de 300ºC e dissolve os minerais, depois sobe e alcança as águas superficiais, à temperatura de 2º C.
Os metais se precipitam a partir de uma solução e se depositam no leito marinho. Os chamados SMS - sigla em inglês para sulfitos marinhos massivos - são colhidos do subsolo marítimo com 8% a 10% de teor de cobre, enquanto os das minas em terra têm, em média, 0,59%.
Depósitos de SMS semelhantes estão presentes no leito oceânico do mundo todo, especialmente no Ártico e ao longo da Cadeia Central de Montanhas do Atlântico. Estas áreas, todavia, estão a profundidades muito maiores, em mares muito mais revoltos.
Os sistemas de mineração submarina poderão extrair até 1,5 milhão de toneladas anuais.
Ambientalistas acreditam que esta atividade poderá espoliar a biodiversidade de vastas áreas do leito marinho, causando perturbações em um frágil ecossistema.
Estimadas 350 áreas foram encontradas contendo ouro, prata e zinco, e licenças de exploração nas águas territoriais de Papua Nova Guiné, Japão, Nova Zelândia, Palau, Estados Federados da Micronésia, Ilhas Mariana do Norte, Vanuatu e Itália estão sendo pleiteadas.
A operação é rentável enquanto os preços do cobre na Bolsa de Metais de Londres se mantiverem acima de £ 1,50; hoje, estão em £ 3,80.
Uma só empresa planeja extrair seis mil toneladas diárias de cobre no Mar de Bismarck; 500.000 onças de ouro e 160.000 t de cobre por ano.
O custo ambiental destas atividades alternativas, contudo, poderá ser astronômico.
(Por Luiz Leitão, A Platéia, 04/06/2008)