A Braskem planeja, a partir do álcool hidratado, o mesmo utilizado como combustível pelos automóveis, produzir eteno e desse insumo o polietileno verde, resina que depois será transformada em produtos finais da cadeia do plástico. Para cada quilo de eteno produzido, são necessários 2,25 litros de álcool hidratado. Como a planta da empresa é projetada para uma capacidade de 200 mil toneladas de eteno (que posteriormente será transformado em polietileno) ao ano, o complexo absorverá anualmente até 450 milhões de litros de álcool.
Se a unidade de produção de plástico verde da Braskem, que iniciará a operação em 2010, for instalada no Rio Grande do Sul, isso significará um novo patamar no consumo de etanol no Estado. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as distribuidoras de combustíveis registraram uma comercialização de cerca de 220 milhões de litros de álcool hidratado no Rio Grande do Sul em 2007.
O responsável pelo projeto eteno álcool-polietileno verde da Braskem, Luiz Nitschke, destaca que o diferencial do plástico verde é a captura do CO2 na atmosfera (gás que provoca o efeito estufa) através da fotossíntese da cana-de-açúcar que será utilizada como matéria-prima. Com exceção da origem, a resina verde tem as mesmas tipicidades do polietileno petroquímico. "Essa é a grande vantagem, pois outros biopolímeros perdem propriedades físico-químicas alterando as características do produto final", explica Nitschke.
Ele relata que a tendência, apresentada por analistas que acompanham o mercado de crédito de carbono, é de que empresas que substituírem o plástico convencional pelo verde terão direitos aos benefícios desse mecanismo. Por exemplo, se uma indústria automobilística usar o polímero oriundo de fonte renovável na montagem de seus veículos, no lugar do material proveniente do petróleo, ela provavelmente aproveitará os créditos.
A Braskem deverá anunciar ainda neste mês se a unidade de produção de plástico verde será instalada no Rio Grande do Sul ou na Bahia. A companhia utilizará terrenos e instalações, como sala de controle, que já possui em Triunfo ou em Camaçari. Uma das equações que está sendo discutida com os governos gaúcho e baiano é a tributação que envolverá a nova operação. No Rio Grande do Sul, a alíquota do ICMS sobre o álcool hidratado é de 25% e na Bahia de 19%.
Nitschke argumenta que a expectativa da Braskem, caso se confirme a implantação da unidade no Estado, é que o Rio Grande do Sul aumente a produção local de álcool. Essa ação melhoraria as condições logísticas para a empresa obter a matéria-prima do seu novo produto. Nitschke adianta que, pelo volume de etanol necessário para atender à demanda da Braskem, a cabotagem será usada para fazer o transporte da matéria-prima até a nova unidade. O álcool deverá sair de portos como o de Santos (SP) ou Paranaguá (PR). Se o destino for o Rio Grande do Sul, a hidrovia gaúcha também será muito utilizada. Isso implicaria um redimensionamento do terminal Santa Clara, em Triunfo. O deslocamento do etanol também poderá ser feito por ferrovias.
A Braskem também realiza outras pesquisas na linha de produtos de fontes renováveis. Uma outra resina que pode ser fabricada através do etanol é o PVC. Neste caso, uma unidade de produção desse material teria que ser instalada na região Nordeste do Brasil. Isso porque as unidades da Braskem de PVC já se encontram lá e uma das principais matérias-primas do PVC é o sal marinho. Nitschke palestrou ontem, na Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs), sobre o projeto eteno álcool-polietileno verde.
(JC-RS, 04/06/2008)