Os líderes mundiais precisam acertar uma forma de tornar os biocombustíveis social e ambientalmente aceitáveis antes de a opinião pública passar a rechaçá-los de forma definitiva, afirmou na terça-feira (3/06) uma importante economista da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os biocombustíveis levantam profundas desavenças na cúpula dos alimentos realizada pela ONU em Roma - alguns vêem neles uma forma de diminuir a dependência mundial do petróleo; outros argumentam que os biocombustíveis podem reduzir a oferta de alimentos no mundo.
Considerados antes uma forma de reduzir o excedente de alimentos, os biocombustíveis tiveram sua imagem arranhada porque contribuíram com a atual disparada do preço dos produtos alimentícios. Grupos de combate à fome defendem que sejam deixadas de lado as políticas de promoção desse tipo de fonte de energia.
Astrid Agostini, uma economista junto à Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), entidade que preside a cúpula de Roma, disse que os biocombustíveis podem beneficiar os agricultores pobres e o meio ambiente se forem utilizados da forma correta.
"Não se trata de decidir entre o preto e o branco. Saber se a bioenergia é uma má idéia depende do que é produzido e quais os métodos agrícolas usados", afirmou Agostini à Reuters, acrescentando que a cúpula deveria abrir caminho para um acordo internacional a respeito da bioenergia garantindo sua adequação social e ambiental. "Se continuarmos a agir da forma atual, com os países implementando as políticas existentes hoje, corremos o perigo de que a opinião pública, que se torna cada vez mais hostil, se volte de uma vez por todas contra os biocombustíveis."
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, pediu que a cúpula crie "um código internacional de conduta" a respeito da produção de biocombustível. Os adversários desse tipo de energia manifestavam-se de forma estridente na cúpula, convocada para discutir uma crise dos alimentos responsável por deixar famintos quase 1 bilhão de pessoas.
"Ninguém entende como, em 2006, um montante de 11 bilhões a 12 bilhões de dólares gasto com subsídios e com políticas de proteção alfandegária tiraram 100 milhões de toneladas de cereais da boca das pessoas para, principalmente, satisfazer uma sede por combustíveis usados em veículos automotores", afirmou o chefe da FAO, Jacques Diouf, ao abrir o encontro, realizado na sede da entidade.
Os EUA e a Europa incentivam a produção de biocombustíveis, o que canaliza para esse tipo de atividade produtos como o milho e óleo de palma. O governo norte-americano pretende, até 2022, reservar cerca de um quarto da sua produção de milho para a produção de etanol. Já a União Européia (UE) planeja fazer com que, até 2020, por volta de 10 por cento dos combustíveis usados nos veículos automotores do bloco sejam de origem vegetal.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 04/06/2008)