Presidente volta a criticar países que culpam etanol por crise de alimentosEm discurso na abertura da Conferência da FAO - a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo pelo fim da fome e criticou duramente os países que atribuem ao Brasil e às plantações de etanol e biocombustíveis a responsabilidade pela crise nos alimentos no mundo.
— Esse comportamento não é neutro nem desinteressado. Vejo com indignação que muitos dos dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão. Vejo com desolação que muitos dos que responsabilizam o etanol - inclusive o etanol da cana-de-açúcar - pelo alto preço dos alimentos são os mesmos que há décadas mantêm políticas protecionistas, em prejuízo dos agricultores dos países mais pobres e dos consumidores de todo o mundo — disse Lula.
O Brasil atribui a crise alimentar no mundo à duas causas: a alta do petróleo e os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos.
— Os subsídios criam dependência, desmantelam estruturas produtivas inteiras, geram fome e pobreza onde poderia haver prosperidade. Já passou da hora de eliminá-los — disse.
— É indispensável afastar a cortina de fumaça lançada por lobbies poderosos que pretendem atribuir à produção do etanol a responsabilidade pela recente inflação do preço dos alimentos — completou, afirmando que o protecionismo agrícola atrofia e desorganiza a produção dos países mais pobres.
Ele voltou a pedir a revisão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) que "permita aos países mais pobres gerar renda com sua produção e exportação".
Lula reclamou daqueles que falam da alta dos alimentos, mas não discutem o preço do petróleo, que seria responsável por 30% do custo final da produção de alimentos no Brasil.
— O petróleo pesa muito no custo das lavouras brasileiras. Aí, eu me pergunto: e quanto não pesa o petróleo no custo de produção de alimentos de outros países que dele dependem muito mais do que nós? Ainda mais quando se sabe que, nos últimos anos, o preço do barril saltou de 30 para mais de 130 dólares.
O presidente referiu-se aos países que criticam a produção de biocombustíveis brasileira, mas se recusam a admitir que o preço do petróleo tem influência direta na alta dos alimentos.
— É curioso: são poucos os que mencionam o impacto negativo do aumento dos preços do petróleo sobre os custos de produção e transporte dos alimentos — disse.
(Agência Brasil,
A Notícia Online, 03/06/2008)