Ninguém sabe quantos leões-marinhos existem no mundo. Pesquisas recentes realizadas pelo U.S. Fish and Wildlife Service e outros institutos colocam o número em aproximadamente 190.000, com a grande maioria no lado Pacífico do Círculo Ártico e sub-Ártico, e talvez 10% em águas do Atlântico. Mas os pesquisadores têm poucas dúvidas de que o número está em uma curva decrescente, conforme diminuem as placas de gelo das quais o mamífero depende para cada estágio de sua vida, escapando por baixo de suas nadadeiras.
"Na primavera, o gelo está derretendo três semanas antes do que acontecia 20 anos atrás, e recongelando um mês mais tarde no outono", diz Carleton Ray, da Universidade da Virgínia, que estuda os leões-marinhos desde a década de 1950. "Não há dúvidas de que essas alterações são muito ruins para os leões-marinhos", ele acrescenta, além de outros habitantes do gelo como ursos polares e quatro espécies de focas - da mesma família dos leões-marinhos, os pinípedes.
Além disso, a diminuição da cobertura de gelo está atraindo a indústria humana em direção ao norte como nunca se viu antes. Em fevereiro, por exemplo, o Departamento do Interior concedeu à Royal Dutch Shell o direito de procurar por petróleo no Mar Chukchi, a noroeste da costa do Alasca, até então uma área não prospectada de habitat marinho e principal ponto de pesca para os leões-marinhos.
Como todos os pinípedes, os leões-marinhos são anfíbios, encontrando seu sustento no mar e seu descanso em terra ou no gelo. Não são nadadores de longa distância ou mergulhadores de profundidade, como algumas baleias e focas podem ser; caçam em águas superficiais próximas do continente, raramente descendo abaixo de 100 ou 200 pés e emergindo freqüentemente para recuperar o fôlego. Os machos adultos deixarão o gelo para passar o verão ao longo das costas da Sibéria e do Alasca, mas as fêmeas e seus filhotes permanecem nas massas de gelo por todo o ano - supondo que o gelo colabore.
Chad Jay, do programa de pesquisa sobre leões-marinhos do Centro Científico do Alasca em Anchorage, diz que ao longo da última década, a cada verão, a placa de gelo no Mar Chukchi foi diminuindo continuamente em direção ao norte, onde agora se move inteiramente para longe do continente e termina na bacia do ártico, em águas profundas demais para que os leões-marinhos procurem alimento.
Como resultado, fêmeas e filhotes foram forçados a abandonar o gelo em meados do verão e seguir os machos até a terra. A viagem os deixa enfraquecidos e facilmente propensos ao pânico. Com a menor perturbação, o grupo corre desesperadamente para a água, muitas vezes pisoteando uns aos outros até a morte durante a fuga.
"Os que mais sofrem com isso são os filhotes", diz Jay. "Nossos colegas russos observaram milhares de filhotes mortos" em episódios de desordem na praia. "Chegou a hora de falar de muitas coisas", disse o leão-marinho de Lewis Carroll. Entre elas, o que o futuro reserva a Odobenus, o pinípede que canta.
(Por Natalie Angier, The New York Times, UOL, 03/06/2008)