Dados do Ministério Público apontam que mudança de traçado em linha de transmissão de hidrelétrica favoreceu a empresa Amaggi
Governador nega mudança em seu benefício; segundo ele, o atual desenho é o "caminho natural" para a distribuição da energia
Dados reunidos pelo Ministério Público de Mato Grosso apontam que uma mudança de traçado na linha de transmissão da hidrelétrica de Dardanelos beneficiou pequenas centrais hidrelétricas do grupo Amaggi, da família do governador Blairo Maggi (PR-MT).
Do complexo de nove PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) do rio Juruena, cinco são do grupo Amaggi.
Os dados constam da ação que conseguiu suspender a licença ambiental da linha. A construção das pequenas hidrelétricas, cujas licenças foram expedidas pelo governo mato-grossense, também é contestada na Justiça.
Segundo o Ministério Público, o primeiro plano de construção da linha de transmissão, proposto no EIA-Rima (estudo de impacto ambiental) de Dardanelos, em 2005, previa que o "linhão" ligaria a usina ao Sin (Sistema Integrado Nacional) por Sinop (506 km de Cuiabá).
No ano passado, quando o relatório de impactos do "linhão" foi apresentado pela Eletronorte, a idéia inicial foi descartada. Surgiu o plano, chancelado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), de que a linha deveria sair de Dardanelos e chegar a Juína (737 km de Cuiabá).
Para o perito da Promotoria, a mudança proporcionou economia à empresa do governador, que antes teria que gastar para conectar o complexo de PCHs ao Sin e agora precisará apenas de fazer uma linha até a subestação próxima das usinas, e não até um ponto mais distante, como antes.
Para o promotor Gérson Barbosa, o novo traçado custará cerca de R$ 500 milhões, o que vai onerar a energia ao consumidor final. A nova linha de transmissão foi aprovada pela Secretaria do Meio Ambiente de MT, subordinada a Blairo.
Outro lado
A Eletronorte, a EPE, a Amaggi e o próprio governador disseram que não há irregularidades nem benefícios na mudança do traçado da linha de transmissão de Dardanelos.
Segundo a Eletronorte, a mudança de traçado foi necessária ao leilão da linha. A EPE afirmou que a mudança é regular e segue um plano de aproveitamento hidrográfico do rio.
Roberto Rubert, diretor da Maggi Energia, afirmou, em conversa em 2007, que a empresa não fará economia com a mudança de planos, pois a linha de transmissão para chegar até a subestação será de tamanho parecido com a que teria que criar no primeiro cenário.
Blairo disse à Folha que não houve qualquer mudança em seu benefício. Segundo ele, o atual desenho é o "caminho natural" para a distribuição da energia. "É o único caminho. Além do mais, passa a 150 km das usinas do Juruena", afirmou, ao dizer que será preciso fazer uma linha nesse trajeto.
(Por João Carlos Magalhães e Rodrigo Vargas, Folha de São Paulo, 03/06/2008)