O aumento de acidez nos oceanos pode matar muitos recifes de coral e deixar ilhas como as Maldivas e o Kiribati mais vulneráveis a tempestades marítimas e ciclones. A conclusão vem no relatório de um centro de investigação australiano que estuda a ecologia e o impacto das alterações climáticas na Antárctica (Antarctic Climate & Ecosystems Cooperative Research Centre).
Com o aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, os oceanos absorvem mais gás e tornam-se mais acídicos. Segundo o relatório, por volta de 2100 o aumento de acidez vai expandir-se para norte a partir da Antárctica. Esta acidez dificulta a produção das partes rijas de animais como a estrela-do-mar e os corais, cujo exoesqueleto é formado por carbonato de cálcio.
“A acidificação dos oceanos torna os corais e as algas mais fracos e os sistemas tropicais [as ilhas] ficarão mais vulneráveis ao impacto físico das tempestades e ciclones”, explica o relatório. As ilhas Maldivas no Oceano Índico e o Kiribati no sul do Pacífico vão ficar menos protegidas contra tempestades marítimas. O fenómeno também vai ter um impacto negativo no comércio tanto a nível piscatório como a nível turístico já que todo o ecossistema que depende dos recifes vai ficar em perigo.
Cadeia alimentar em perigo
Quando o CO2 é absorvido pelo oceano transforma-se num ácido fraco chamado ácido carbónico. Actualmente o aumento de concentração de CO2 é a maior dos últimos 650.000 anos devido à actividade humana. “O oceano é um enorme sumidouro das emissões e têm absorvido cerca de 48 por cento do CO2 emitido pela humanidade desde antes da revolução industrial”, diz o relatório.
O Oceano Antárctico é dos oceanos que mais CO2 tem absorvido. Em 2060, a concentração de iões de carbonato nas águas da Antárctica será tão baixa que a aragonite, uma das formas de carbonato de cálcio existente nas conchas dos organismos, deixará de ser produzida. Esta alteração também poderá interferir com a respiração dos peixes, o desenvolvimento larvar dos organismos marinhos e com a capacidade dos oceanos para absorverem nutrientes e toxinas.
“A acidificação irá ter provavelmente um efeito em cascata na cadeia alimentar, que é importante para os seres humanos”, diz Will Howard, um dos investigadores do Centro australiano. Segundo o relatório, as calotes polares mostram que a subida do nível de CO2 é 100 vezes maior do que a maior que teve lugar durante os últimos 650.000 anos. Os registos sedimentares sugerem que o nível actual do gás é o mais alto dos últimos 23 milhões de anos.
As previsões dizem que durante este século o nível do CO2 na atmosfera vai duplicar aquele que existia antes da era industrial. O oceano irá continuar a absorver parte deste CO2. “Muitas espécies [marinhas] necessitaram de milénios para evoluírem e não se sabe se serão capazes de se adaptar a uma acidificação do oceano relativamente rápida, na ordem de décadas e não de milénios”, diz o relatório.
(Reuters, Ecosfera, 02/06/2008)