Chefes de Estado de mais de 30 países começam a discutir nesta terça-feira (03/06) em Roma, na Itália, a crise provocada pela alta do preço mundial dos alimentos, que provocou desabastecimento e violência em diversas partes do mundo. A Conferência da FAO (a agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos) tem como objetivo chegar a um consenso sobre as verdadeiras causas da atual crise. Outro objetivo é coordenar a ação global para melhorar a situação dos mais atingidos.
O preço dos alimentos vem crescendo em ritmo cada vez mais acelerado nos últimos anos, segundo o índice de inflação de alimentos da FAO. Os preços subiram 8% em 2006 e 24% em 2007. Só nos primeiros três meses deste ano, o índice teve alta de 53%. Um relatório da agência da ONU afirma que os preços dos alimentos devem continuar muito acima da média recente nos próximos dez anos.
Segundo o Banco Mundial, nos últimos dois anos mais de 100 milhões de pessoas caíram para abaixo da linha da pobreza, com renda inferior a US$ 1 por dia. O principal fator do aumento da pobreza seria a crise da alta dos alimentos. Nos países com grande parcela da população pobre – como Haiti e na África Subsaariana – houve violência devido ao desabastecimento.
Vilões
Diversos fatores são apontados como vilões da crise, entre eles o aumento do consumo mundial – sobretudo nos países emergentes –, problemas de safra em alguns países produtores, a alta do preço do petróleo, o aumento da produção de biocombustíveis no lugar de alimentos, a queda da cotação do dólar e a especulação no mercado de commodities.
Alta dos alimentos causou revolta no Haiti e outros países
No entanto, não existe um consenso internacional sobre o peso exato que cada um desses fatores tem isoladamente na composição da inflação mundial. O Brasil participa da reunião empenhado em aliviar a pressão contra os biocombustíveis. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursa na abertura do encontro, deve fazer uma crítica ao impacto da alta do petróleo na crise e das barreiras comerciais impostas ao etanol do país.
Na véspera do encontro, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, teria dito a Lula, em um encontro reservado, que teme uma “excessiva politização” da atual crise. Lula vem atacando as críticas ao etanol – o que ele chamou de “guerra necessária” – como uma campanha de diferentes segmentos que estariam perdendo economicamente com o produto brasileiro.
Ação coordenada
Outro tema da conferência é como a comunidade internacional deve ajudar as pessoas que já estão sendo afetadas pela crise. O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, disse que uma ação coordenada dos países é “urgente” para ajudar cerca de 862 milhões de pessoas que já sofrem com a fome no mundo. A conferência da FAO termina na quinta-feira, quando os participantes devem divulgar uma declaração final indicando algumas soluções e medidas para lidar com a crise.
Além de Lula, participam do encontro o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e os primeiros-ministros da Espanha, José Luis Zapatero, e da Itália, Silvio Berlusconi. No entanto, as maiores atenções da imprensa internacional em Roma estão voltadas para outros dois participantes – os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e do Zimbábue, Robert Mugabe. Na segunda-feira, a presença de Mugabe – que enfrenta acusações de perseguir a oposição e fraudar as eleições no seu país – foi chamada de “obscena” por autoridades da Grã-Bretanha e da Austrália.
(Por Daniel Gallas, BBC Brasil, 02/06/2008)