Sandra Cavalcanti, responsável por "políticas sociais" de eliminação de mendigos, remoção forçada de favelados na década de 60, século passado, no governo de Carlos Lacerda, reapareceu para dizer que o País não é dos índios, mas "nosso". Nosso de quem cara pálida? Dos latifundiários do agronegócio? Dos madeireiros que devastam a Amazônia? Da VALE que quer transformar a floresta numa imensa plantação de eucaliptos? Das elites corruptas que governam a Amazônia? Da turma que troca floresta por pastos e cria imensos desertos do futuro? Dos bancos?
Em 1964 os militares e as chamadas vivandeiras dos quartéis, políticos insufladores de golpe por conta do dinheiro das elites e dos interesses norte-americanos, inventaram um trem chamado "Marcha da família com Deus pela liberdade". Colocaram no apelo patético em cima da religiosidade do brasileiro milhões de pessoas nas ruas do Rio e São Paulo pedindo o fim do governo Goulart. Trouxeram um padre fascista, Patrick Payton para pregar a "liberdade" e deram um golpe derrubando um governo que contrariava seus interesses mergulhando o Brasil nas trevas da ditadura.
D. Sandra Cavalcanti era uma das lacerdistas histéricas que Antônio Maria, o notável cronista e compositor, chamou de "malamadas". Neologismo um tanto machista, mas hoje, à época serviu para definir a histeria anti comunista. Que, na prática, era frenesi golpista. A tal "marcha da família com Deus pela liberdade" transformou o Brasil num campo de concentração. Prisões, tortura, assassinatos e seqüestros, além da legião de exilados, enquanto os militares falando em nacionalismo entregavam-se ao papel de polícia de Washington em operações como a Condor, na esteira do fascismo que permeou toda a América do Sul.
Foto Carlos Vieira, CB D.A Press. O jornalista Lúcio Vaz em riachos secos no Uruguai. Os "desertos verdes". O eucalipto e o "progresso", o tal "desenvolvimento sustentável" que faz a glória e o lucro dos "patriotas". Em noites de sextas-feiras Sandra Cavalcanti sobrevoa o lugar montada em vassoura e o general Heleno em máquina de dar choques. De meia em meia hora gritam "patriotas" Os bravos augustos helenos da época se compraziam na violência, na barbárie, nos estupros de presos indefesos em cárceres financiados pela iniciativa privada, enquanto falavam em liberdade pelas GLOBOS que se constituíam para vender o mundo da mentira e da violência.
Os de hoje querem entregar a Amazônia e como naquele tempo, pretendem sugerir o contrário no discurso golpista e hipócrita em que arrastam figuras no mínimo duvidosas como Mangabeira Unger. Ressuscitam, buscam nas catacumbas outras tantas figuras sepultadas pela vontade popular, caso de Sandra Cavalcanti.
Tudo combinadinho e seguidinho. Augusto Heleno em acesso de patriotismo (mas para Washington, VALE, ARACRUZ, latifúndio). FIESP/DASLU falando em progresso, o eufemismo de "desenvolvimento sustentável". Arrozeiros atacando índios em terras de índios. Latifundiários assassinos sendo absolvidos. O presidente do Supremo Tribunal Federal prejulgando em discurso de posse. Deputados e senadores remunerados pelos donos proclamando a necessidade de um Brasil para os brasileiros (pagos por empresas e Washington, Wall Street).
O desenvolvimento da Amazônia é simples. É a preservação. Só isso. Quando se fala em pulmão do mundo se fala na preservação. Quando falam em desenvolvimento sustentável inventam o pirulito com que William Waak robô de plantão na noite global, complementa a ordem do dia do "general" Bonner", agora com apoio dos ajudantes de ordem do JORNAL DA BAND e de todo o conjunto da mídia brasileira.
A afirmação feita pela "professora" Sandra Cavalcanti, buscada sabe-se lá em que catacumba de que câmara de tortura, que o "Brasil é nosso", não "é dos índios", é o velho preconceito que se estende a negros, a minorias, a excluídos, no caráter apátrida de elites da maioria cooptada das Forças Armadas, tal em qual em 1964. A democracia do choque elétrico, do estupro, do assassinato de adversários, da censura.
É curioso que esses mesmos veículos de comunicação, generais, empresários (empresários? Bucaneiros na verdade) se mostrem piedosos em relação a índios norte-americanos massacrados ao longo da História pelos Helenos de lá (Custer) e repitam a farsa aqui, com a mesma conversa de desenvolvimento, progresso, bem estar, essa baboseira do fascismo, agora na versão Idade Média da tecnologia. Em meio a tudo isso um governo tonto, um presidente manco, no qual colocaram a camisa de força do espetáculo de um show de obras para todos os lados. Vamos comer eucalipto, concreto das empreiteiras e beber etanol para o gáudio dos donos.
Lúcio Vaz, jornalista do CORREIO BRAZILIENSE mostrou o efeito das chamadas papeleiras. Foi ao Uruguai e constatou o impacto do tal desenvolvimento sustentável. A sobrevivência dos agricultores (alimentos) está ameaçada pelas plantações de eucaliptos. A água está sumindo. As nascentes estão secando.
"A invasão dos pampas pelos maciços de eucaliptos começou pelo Uruguai, onde atuam as multinacionais Botnia (finlandesa) e Ence (espanhola). O país conta com pelo menos 700 mil hectares ocupados com florestas de eucaliptos. A Ence ainda está implantando sua base florestal, mas a fábrica de celulose da Botnia, em Fray Bentos, na fronteira com a Argentina, já está em operação. Com investimentos de US$ 1,1 bilhão, vai produzir 1 milhão de toneladas de celulose por ano. Os espanhóis vão produzir a metade disso. O governo e os empresários locais saúdam a nova frente econômica, como acontece no Rio Grande do Sul, mas os efeitos dos "desertos verdes" de eucaliptos já são sentidos por agricultores na região de Mercedes, no departamento de Durazno".
É o jogo jogado pelos que defendem arrozeiros com o argumento do progresso, dos empregos (trabalho escravo). Sandra Cavalcanti não aparece por acaso nesse desenrolar da partida entreguista. É mais uma "patriota" convocada para vender o apito que querem trocar com os índios e o povo brasileiro pela Amazônia em nosso País. Os próximos capítulos desse "patriotismo" estarão nas redes de tevê, nos jornais, nas revistas, onde você vai encontrar anúncios do progresso que VALE e ARACRUZ trazem. Nos lucros que bancos auferem em cima de trabalhadores. Na Justiça que se omite e prejulga. No Congresso do botox e das farsas de bancadas ruralistas e DEMocráticos, com bicos tucanos.
A grande vantagem que os verdadeiros donos levam é que o ministro Mangabeira Unger já fala com sotaque. Trocar de língua não vai ser difícil. E entrou no palácio pela porta da frente, convidado por Lula (mesmo depois de ter dito que "o governo Lula é o mais corrupto da história"). O presidente brinca de desenvolvimento e deixa de lado o compromisso histórico de unidade latino-americana em nome da governabilidade limitada pela ação golpista num coro afinado em que contam o tempo para a chegada de um Serra da vida. Vamos virar uma África da vida. Somos o Oriente Médio de amanhã, já quase amanhecendo.
(Por Laerte Braga *, Adital, 30/05/2008)