"Gostei das três oficinas que participei. Aprendi que não basta falar em reciclagem, tem que lavar as latinhas e caixinhas antes de colocar no lixo, porque alguém pode pegar e reciclar, até eu posso usar para fazer um brinquedo”, disse Carolina Schons, 8 anos, que passou a tarde de ontem nas oficinas do projeto Gerações em Movimento do Fórum Mundial de Educação, no Colégio Marieta D’Ambrósio.
A mãe de Carolina, Elisângela Schons, 33 anos, professora de matemática, deixou a filha, a irmã Larissa, 10, e amiga Emanuelli Rizzi, 10, na oficina de reciclagem de garrafas PET no início da tarde e só foi buscá-las no final. “Enquanto eu participava da oficina de matemática, deixei as crianças aqui. Elas mesmas escolheram essa oficina para participar”, contou a mãe que foi buscar as filhas, mas acabou ficando para fazer brinquedos de material reciclável.
Brincadeira com consciência ambiental: “aprendemos que nosso corpo faz sons e que podemos fazer bonecos e vários outros brinquedos com muitas das coisas que jogávamos fora em casa e é muito divertido”, dizem Larissa e Emanuelli. Os briquedos construídos pelas crianças, saíram do livro das professoras Marilei Grigoletti e Mara Nascimento: Brincadeiras Lúdicas - Construção e Prática de Jogos com Materiais Recicláveis. A obra foi o meio que as professoras encontraram para ajudar outros educadores a ensinar os pequenos sobre educação ambiental.
O livro serve para todas as disciplinas, desde estudos sociais até matemática, e está à venda na Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma) e com as professoras. O preço gira em torno dos R$20,00. A educadora infantil Zeni Camargo aprovou a idéia. “Vou aplicar o que aprendi aqui na oficina lá na escolinha onde trabalho”, disse Zeni, que trabalha na Art e Manha.
A oficina fazia parte do eixo de discussão Ética Planetária e partiu do pressuposto de que tudo que é jogado no lixo pode ser reaproveitado em materiais pedagógicos. No colégio Marieta D‘Ambrósio, oito salas passaram a tarde inteira lotadas com oficinas para todas as idades.
Já nas atividades autogestionadas, a oficina de Educação Ambiental e Educação de Solos, dos alunos da pós-graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), teve como foco os professores. “Um dos grandes objetivos dessa oficina de solos foi de não deixar os educadores ficarem com conceitos fossilizados sobre educação ambiental, buscamos mostrar alternativas para o ensino dessa disciplina”, disse Daiane Pinheiro, 24, aluna da pós.
Usando garrafas plásticas, bacias, exemplares de solo, entre outros objetos, os alunos tiveram seu dia de professor e tentaram sensibilizar o público para os recursos ambientais não renováveis. “Apesar de não parecer, e no di-a-dia não nos darmos conta, o solo também é um recurso natural não renovável que precisa de cuidados. Por isso, estamos sugerindo atividades lúdicas para se trabalhar o tema em sala de aula”, contou Juliana Jornada, 24 anos.
O trabalho que os pós-graduandos mostraram foi baseado no que aprenderam em sala com Ricardo Dalmolin, professor que já desenvolvia esse trabalho. “Foi muito bom ver que muitos educadores se interessaram e até pediram nossos contatos e os do Museu de Solos”, disse Karin Dalla Pozza, 23 anos.
Inclusão na dose certa para cada aluno
A inclusão de alunos com algum tipo de deficiência nas aulas da escola regular foi tema da oficina de Sensibilização para Alunos com Deficiência Visual, ministrada pela educadora especial Lisete Massulini Pigatto, no Colégio Coronel Pilar. Professoras de várias escolas da cidade e da região contaram suas experiências com alunos especiais em escolas regulares e da necessidade de melhor preparação para educadores ficarem aptos a receber esses estudantes.
Para a professora Marielda Barcellos Medeiros, 42 anos, a principal dificuldade que ela vê nos alunos com deficiência visual é a matemática. “Na matemática é onde vejo que os alunos com deficiências visuais têm mais dificuldades de construção. Na maioria das escolas públicas, o que mais prejudica o aprendizado é a falta de recursos auxiliares para os alunos, disse a professora de Pelotas.
Já a conselheira tutelar, Nara Freitas Depra, 50 anos, levanta outra questão, a do preconceito. “Já tive casos de rejeição e preconceito entre alunos regulares e especiais. As escolas ainda não estão preparadas para a inclusão desses alunos e acredito que seja perigoso forçar essa situação. Primeiro é preciso dar condições para os professores”, afirmou a conselheira.
O trabalho desenvolvido pela palestrante Lisete propõe uma inclusão gradual, na medida em que o aluno vai aprendendo a auto-gestionar seus conhecimentos e necessidades. “Após as aulas, os alunos com deficiência visual vão para uma sala com recursos de que podem se utilizar para melhorar o aprendizado, levam suas dúvidas e aprendem braile. Assim eles conseguem acompanhar a turma, se aceitar e os outros alunos já não os rejeitam”, disse Lisete. Logo que os alunos são matriculados, a professora faz atividades de socialização do aluno com deficiência e a turma até o especial ter condições de integrar a turma. O Coronel Pilar recebe alunos com deficiência há 20 anos.
(A Razão, 31/05/2008)