Há 22 anos uma sociedade ajuda, de certa forma, a preservar espécies de pássaros silvestres criados em cativeiro, sendo alguns em risco de extinção. Ao mesmo tempo serve de exemplo à prática de criação devidamente legalizada. O robe que associa paixão e conhecimento pelas espécies da avifauna deu origem à Sociedade Ornintológica Pelotense (SOP).
O presidente, Clemente Maria da Fonseca, de 54 anos, lembra que falar sobre pássaros silvestres é sempre delicado uma vez que logo é associado ao tráfico de animais. “A SOP tem por objetivo a troca de experiências e de matrizes de pássaros produzidos em cativeiro”, justifica. As espécies não podem ser comercializadas, mas entre os associados - total de 84 - é possível fazer troca de machos e fêmeas para o acasalamento.
Dos pássaros tirados em cativeiro estão os cardeais amarelo, o vermelho (considerado o carro-chefe) e mutação. Tem ainda o azulão, sabiá, coleiros, curiós e canários-da-terra. Parte da produção é entregue à natureza, para que as espécies façam seu papel no habitat. “Este ano fizemos a soltura de mais de 42 filhotes de canário-da-terra”, conta o presidente.
Atrações
Entre as principais atrações da SOP estão os torneios promovidos, cujo os criadores dos melhores nas categorias canto e fibra (espécies que ficam uma em frente a outra sem medo e permanecem cantando), recebem troféus. Ontem, uma exposição de filhotes tirados em cativeiros reuniu sócios e curiosos. Para que o evento pudesse ser realizado, a SOP contou com a aprovação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Sempre dentro da lei, os passarinheiros, como costumam se autodeterminar, contam ainda com toda a assessoria técnica de apoiadores como os criadores conservacionistas Roberto Baltar e Sílvio Peres. “O Baltar, que é nosso sócio remido, nos ajudou a formar o Estatuto da Sociedade”, acrescenta Fonseca, que há 16 anos preside a SOP.
Canto refinado
O gosto pelo canto silvestre é um dos motivos que levam os criadores a fazer cruzamentos entre pintassilgos e canárias. A resposta são os pintagóis. O tesoureiro da Sociedade, Delmar Curtinaz Medeiros, 51 anos, admite que tem verdadeira admiração pelo canto dessa espécie. Há 20 anos Medeiros começou a montar seu plantel e nos dias atuais já soma mais de 60 exemplares. “Tenho um funcionário que me ajuda na manutenção do pássaros”, disse.
Cuidados
Uma vez conquistada a aposentadoria, Fonseca dedica praticamente seu dia aos animais. No espaço aos fundos da casa, cuida dos mais de 90 exemplares. A rotina é simples, porém, trabalhosa. Entre a limpeza das gaiolas, a troca de água e a alimentação, o criador ministra os medicamentos dos pássaros, quando necessário. Com a chegada do frio, a alternativa foi unir o útil ao agradável. O duto metálico do fogão a lenha instalado na cozinha aquece a peça ao lado que serve de criadouro, mantendo assim a temperatura ambiente. Os viveiros instalados no pátio são revestidos com plástico para evitar que o clima gelado chegue até os animais.
Por serem criados em cativeiro, os pássaros acabam domesticados e um dos passatempos de Fonseca é alimentá-los na boca. A comida preferida do plantel do presidente da SOP e dos outros sócios são as larvas vindas especialmente de Minas Gerais e armazenadas em caixas de madeira. Além disso, folhas verde, todo tipo de grãos e laranja são bem-vindos pelas aves. Os gastos por mês chegam à casa dos R$ 200,00.
Reprodução
Todo ouriçado, o macho chama a atenção da fêmea. O casal então está pronto para o acasalamento. O comportamento, observado de perto por Fonseca, leva a crer que os filhotes estão a caminho e os ninhos - feitos com a “barba” da casca de coco - entram em ação.
Os filhotes, por vez, ganham uma gaiola maior para fortalecer a musculatura das asas até chegar à fase adulta e cumprir suas missões: reproduzir e encantar os apreciadores com seus lindos cantos. Já a Sociedade mantém as suas: criar e preservar. Em breve a página estará à disposição dos ornintólogos.
(Por Cíntia Piegas, Diário Popular, 02/06/2008)