O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, no domingo, que vai procurar persuadir os líderes mundiais que vão se reunir em Roma, esta semana, de que o etanol não é o culpado pela inflação mundial dos alimentos.
O Brasil é o maior exportador mundial de etanol e pioneiro na produção de biocombustíveis à base de cana de açúcar, o que o torna alvo de críticos que alegam que o etanol é responsável pelos aumentos nos preços mundiais das commodities.
Lula disse que a cúpula da ONU sobre segurança alimentar, que começa na terça-feira, dará à maior economia da América Latina uma oportunidade de moldar o debate sobre biocombustíveis, e que espera conquistar a adesão de alguns céticos.
"Esse encontro que a FAO (a Organização das Nações Unidas para os Alimentos e a Agricultura) está promovendo será uma grande oportunidade para o Brasil", disse Lula a jornalistas em Roma antes do início do evento.
"Estou convencido de que estamos no início de um debate. Cabe ao Brasil, centro de excelência na produção de etanol, provar que é plenamente possível compatibilizar a produção de etanol com a produção de alimentos."
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que montou sua própria força-tarefa para encontrar respostas para a crise da segurança alimentar, deve reunir-se reservadamente com Lula em Roma na segunda-feira, antes da cúpula que terá lugar entre 3 e 5 de junho.
Tomarão parte na cúpula os líderes da França, Espanha, Japão, Argentina e alguns países africanos. Também está prevista a presença do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, em sua primeira viagem à Europa ocidental como presidente.
A maior parte da rejeição aos biocombustíveis se refere à produção norte-americana de etanol à base de milho, que vem desviando grandes quantidades desse alimento básico para a produção de combustível.
INVASÃO
Críticos dizem que no Brasil a produção de etanol está levando agricultores e pecuaristas a invadir áreas maiores da floresta amazônica. Lula rejeitou essas alegações e disse que países da Europa e outras regiões não têm o direito de fazer sugestões quanto à política com relação à Amazônia.
"Nenhum país no mundo tem a autoridade moral e política de falar conosco sobre conservação ambiental e etanol", disse ele, acrescentando que a União Européia conserva apenas 0,3 por cento de sua mata original.
"A Amazônia é nossa e vamos cuidar dela de maneira responsável."
Lula é defensor de longa data do etanol à base de cana, dizendo que o combustível pode ajudar a combater o aquecimento global e permitir que países pobres contrabalancem a alta dos preços do petróleo, que ele atribuiu à especulação do mercado.
Ele disse que o Brasil é a prova de que os países não precisam escolher entre alimentos ou combustíveis. Com o etanol feito de cana de açúcar, o Brasil vem elevando sua produção de biocombustíveis ao mesmo tempo em que aumenta sua produção agrícola.
"Nós brasileiros estamos convencidos de que o mundo pode resistir, mas que terá que assumir a responsabilidade por usar outros combustíveis", disse Lula.
Henrietta Fore, administradora da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), falou favoravelmente sobre o programa brasileiro de etanol antes da cúpula da ONU.
"Temos tido relações muito produtivas com o Brasil com relação aos biocombustíveis", disse ela a jornalistas no domingo. "O Brasil tem um programa muito eficaz de combustível à base de cana de açúcar que poderá ser de enorme utilidade para o Caribe."
(Agência Estado, 01/06/2008)