Fotos aéreas de uma comunidade indígena isolada na bacia Amazônica, próxima à fronteira entre o Brasil e o Peru, foram divulgadas nesta semana para mostrar que a comunidade existe e pode estar ameaçada pela exploração ilegal de madeira. Uma das fotos, tirada pelo governo brasileiro, mostrava dois homens, pintados de vermelho, ameaçando com arco e flecha o avião que levava a câmera e voava baixo na densa floresta tropical. Em outra foto, cerca de 15 homens, mulheres e crianças que não estavam pintados olhavam para cima de suas ocas.
A Survival International, organização com sede em Londres cuja missão é ajudar os povos tribais a "defender suas vidas, proteger suas terras e determinar seu próprio futuro", diz que as fotos foram tiradas a partir de uma série de vôos sobre a área escassamente povoada do alto Amazonas no Acre.
O governo brasileiro conduz essas operações fotográficas para localizar as tribos espalhadas pela floresta e monitorar sua segurança. Antropólogos dizem que a ação do governo nos últimos anos têm sido rastrear esses povos remotos pelo ar ou pelos rios, mas não interferir em suas vidas.
Em uma declaração divulgada na quinta-feira, a Survival Internacional citou José Carlos dos Reis Meirelles, funcionário da Funai, departamento do governo brasileiro que cuida da questão indígena, que disse: "sobrevoamos a area para mostrar suas casas, para mostrar que eles estão lá, para mostrar que eles existem."
As fotos foram tiradas no final do mês de abril e começo de maio, mas o governo divulgou-as apenas agora por causa das preocupações crescentes de que doenças e o avanço da exploração ilegal de madeira ameacem destruir o estilo de vida da tribo.
As primeiras notícias da imprensa e a declaração da Survival International não identificaram a tribo ou davam a localização exata da aldeia, talvez como forma de protegê-la de visitantes indesejáveis. Mas as notícias descreviam a aldeia como membro de uma das poucas tribos remanescentes da América do Sul que ainda não teve contato com o mundo de fora.
Mas Robert L. Carneiro, antropólogo do Museu Americano de História Natural, que fez carreira ao estudar os povos indígenas da Amazônia, questionou a descrição após examinar as fotografias na sexta-feira. Ele notou que os homens usavam cocares de bambu que pareciam coroas, e faixas de bambu cortado bem fino em volta da cintura.
Ele disse que as vestimentas lembravam as do povo Amahuaca com quem ele viveu e que estudou nos anos 60. A maior parte deles vive ao longo dos afluentes do rio Amazonas, no Peru, não muito longe do Acre, disse Carneiro. "Não estou dizendo que as pessoas na foto são Amahuaca, mas poderiam ser", disse. "Ou então são um grupo muito próximo."
(Por John Noble Wilford, The New York Times, tradução de Eloise De Vylder, UOL, 01/06/2008)