Com participação destacada do agronegócio, a atividade econômica na Amazônia Legal cresce em ritmo duas vezes mais acelerado do que a média nacional. Nos primeiros três anos do governo Lula, a região cresceu 22,4%, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro acumulava crescimento de 10%, segundo cálculo feito pela Folha.
Os dados oficiais mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para Estados e municípios são de 2005. Apesar do crescimento acelerado, a riqueza gerada na região contribuiu com menos de 8% no PIB nacional, de acordo com os últimos dados disponíveis. A Folha consultou os resultados da atividade econômica dos Estados da Amazônia Legal, área de cinco milhões de quilômetros quadrados e alvo do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Desse território, 83% são dominados pelo bioma Amazônia, onde estão concentradas as ações de combate ao desmatamento.
Embora a administração pública tenha participação importante na economia da região, as atividades agropecuárias pesaram, especialmente no crescimento de Mato Grosso e do Pará, os dois Estados que se mantêm no topo do ranking do desmatamento desde o início da década. Em Mato Grosso, a riqueza gerada pela agricultura cresceu 44,3% no período pesquisado, só perdendo para percentual registrado no Tocantins (92,1%). Os Estados são, respectivamente, vice e campeão no país em percentual de variação do PIB de 2002 a 2005.
O rebanho bovino na Amazônia alcançou, em 2005, 74,59 milhões de cabeças. Foi o resultado da concentração, na região, do crescimento da pecuária nacional. Nesse capítulo, Mato Grosso e Pará também têm destaque. De acordo com dados do PAS, a pecuária bovina já ocupa 70 milhões de hectares -ou 13,5% da Amazônia. A área ocupada pela pecuária bovina é bem maior do que a ocupada por atividades agrícolas: 13 milhões de hectares, responsáveis por 22% da produção nacional de grãos.
É importante lembrar que 33,5% do território da Amazônia Legal é de áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, ou com destinação exclusiva para atividades militares. O documento de apresentação do PAS do governo federal, lançado no início do mês, já vincula parte do crescimento econômico da região à produção de grãos e à pecuária, "que atualmente têm aumentado o seu peso relativo no desempenho econômico, em especial nos Estados de Mato Grosso, Tocantins, Pará e Maranhão".
Agronegócio
Os resultados do agronegócio no crescimento da região ajudam a explicar o eco, no governo, das pressões contra as medidas de combate ao desmatamento, sobretudo o bloqueio do crédito rural aos produtores que não comprovarem regularidade ambiental. Essa regra estabelecida entra em vigor em 1º de julho, segundo determinação do Banco Central. Os dados sobre a atividade econômica compilados pela Folha não refletem os movimentos mais recentes na Amazônia, que impuseram aceleração ao ritmo de devastação da floresta no segundo semestre de 2007, nem mesmo as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que incluem a construção de 20 terminais hidroviários e a pavimentação de rodovias.
O Ministério do Planejamento espera concluir no mês que vem estudo sobre o impacto das obras na economia da Amazônia. O estudo do ministério levará em conta a construção de hidrelétricas e gasodutos na região, outra prioridade do PAC do governo.
Coordenador do Plano Amazônia Sustentável, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) defende planos de industrialização da região em moldes diferentes do da Zona Franca de Manaus, que movimenta a economia do Amazonas e, segundo ele, "não tem nada a ver com a floresta, produz coisas como bicicletas".
Mangabeira defende o processamento de produtos da floresta e indústrias associadas à produção agropecuária e à exploração de minérios. "Ambientalismo sem projeto econômico é inconseqüente numa área desta vasta extensão que é a Amazônia", sustenta ele.
(Por Marta Salomon, Folha de São Paulo, 01/06/2008)