Se a alta dos preços dos alimentos persistir e não houver aumento da renda, 15 milhões de pessoas entrarão nas estatísticas de indigência na América Latina. A advertência foi feita pelo diretor-geral da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), José Luis Machinea, que prevê contingente superior a 84 milhões de indigentes caso a elevação do custo dos produtos fique em 15%.
Confirmada a projeção, o número de indíviduos que compõem o grupo de pobres passaria de 189,5 milhões para 204,5 milhões. Em um cenário com reajuste de 5% no valor dos alimentos, cada grupo incorporaria mais 10 milhões de pessoas, o que, diz a Cepal, anularia os avanços obtidos na região nos últimos anos. A instituição aponta que, até abril, o Índice de Preços ao Consumidor interanual subiu de 6% a 7% e o custo dos alimentos, 15%.
A Venezuela lidera o ranking dos países cujas cestas básicas tiveram maior elevação, com índice de 40%, seguida da Nicarágua, com 28%, e da Bolívia, com 25%. O diretor da Cepal recomenda medidas urgentes para evitar retrocesso na região. Machinea prega a baixa dos impostos e das taxas alfandegárias dos alimentos e a ampliação dos subsídios para setores com mais dificuldades. 'Não se deve reduzir o gasto social, mas sim aumentá-lo hoje, para que dentro de cinco anos não tenhamos que recolher em ambulâncias o que não fizemos', enfatiza a diretora regional para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Rebeca Greenspan.
Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) adotou, por consenso, resolução proposta por Cuba que pede a revisão de 'qualquer política ou medida que possa ter impacto negativo sobre o cumprimento do direito à alimentação'. Conforme o Banco Mundial, o preço dos alimentos quase dobrou em três anos. Especialistas atribuem o fato às restrições comerciais, ao clima, ao crescente uso de biocombustíveis fabricados com produtos agrícolas e à alta da cotação do petróleo, que encarece o transporte.
(CP, 01/06/2008)