A unidade de conservação ambiental, cujo entorno é ocupado desde 2004 por dezenas de famílias indígenas que reclamam a posse da área, já apresenta clarões na mata, perda de vegetação rasteira e alterações de paisagem devido à circulação de pessoas e à extração de cipós.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) estima que, se um trabalho de recuperação fosse iniciado imediatamente, ainda assim seria preciso pelo menos uma década para devolver à vegetação o aspecto original. A degradação do ambiente foi acompanhada por uma expansão no número de casas na zona ocupada.
Uma comparação de fotografias aéreas feita semana passada pela bióloga Maria Carmen Bastos, gerente da Unidade de Conservação do Parque Natural do Morro do Osso, demonstra que, entre janeiro de 2006 e o mês passado, o número de moradias passou de 14 para 22. A especialista também observou o avanço do desmatamento ao redor das habitações e identificou até uma recém-construída churrasqueira de alvenaria em meio às árvores.
Enquanto tramita na Justiça a disputa legal entre a prefeitura e os índios pela área localizada na Zona Sul, o impacto ambiental já ameaça a biodiversidade do santuário natural porto-alegrense. Conforme Maria Carmen, as principais razões para isso são a excessiva circulação de pessoas pelo interior da mata e a retirada de cipós e sementes para confecção de peças de artesanato.
- O pisoteamento mata a vegetação rasteira. Os cipós ligam as copas das árvores e as deixam mais resistentes a tempestades. Também reduzem a entrada de luz. Já há várias áreas de clareira - analisa.
A comparação entre outras duas fotos tiradas no interior do parque - uma de 2001, a outra do final do ano passado - demonstra o grau de comprometimento do ecossistema. Na primeira, a floresta é escura, há uma espessa vegetação no chão e uma rocha está coberta de musgo. Na mais recente, a luz penetra em abundância entre as árvores, e o verde desapareceu do solo e da superfície da rocha.
- Isso significa a morte de muitos bichos que, apesar de pequenos, são fundamentais para o equilíbrio ambiental na região - diz Maria Carmen.
As fotografias aéreas são o recurso encontrado pelos especialistas para acompanhar a evolução da área devido ao temor de visitar a região. Nos últimos anos, o ex-titular da Smam Beto Moesch e o integrante da Associação de Moradores do Sétimo Céu Alfredo Fedrizzi já enfrentaram hostilidades no local. Moesch se envolveu em uma briga, e Fedrizzi ficou retido por duas horas até a chegada da polícia. O advogado das famílias indígenas, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, admite a descaracterização ambiental do Morro. Ele não concorda, porém, que o motivo da ameaça ao ecossistema sejam seus clientes:
- A retirada do cipó é um ato tradicional da vida indígena e é uma coisa regenerável. O motivo para a deterioração do ambiente é a exploração imobiliária irregular nas proximidades - afirma.
Com relação à ocupação da área verde, Barbosa diz que, se houver um laudo definitivo indicando que na região jamais houve presença indígena, eles irão embora imediatamente. Um documento já apresentado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) contrariando as pretensões indígenas não foi considerado conclusivo por eles. O supervisor de Praças, Parques e Arborização da Smam, Luiz Alberto Carvalho Júnior, afirma que a secretaria combate qualquer ocupação imobiliária irregular.
- A questão é que o impacto ambiental ocorre na região ocupada pelos índios. É um problema pontual - argumenta. Segundo Maria Carmen, as únicas casas dentro da área do parque são indígenas. Revela ainda que as conclusões obtidas a partir dos registros fotográficos deverão ser remetidas para a Justiça Federal segunda-feira, já que somente as famílias presentes desde o início da ocupação poderiam permanecer no Morro do Osso até o julgamento definitivo.
(Por Marcelo Gonzatto, ZH, 01/06/2008)