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amazônia
2008-05-30

As empresas de navegação dos países nórdicos e canadenses estão felizes com as mudanças climáticas: já duplicaram, na úlltima década, e ampliam-se rapidamente as condições de trânsito dos grandes cargueiros por rotas do Ártico que até recentemente permaneciam fechadas pelo gelo durante a maior parte do ano. Até mesmo o trâfego de carga de Nova York a Yokohama (Japão) poderá ser feito por distâncias significativamente menores: de 25.000 km através do Canal de Suez ou 18.500 km pelo Canal do Panamá para 15.000 km pelas “novas” rotas do Ártico. “O uso comercial dessas rotas é questão de tempo” - comemoram os executivos dessas empresas, ainda que as condições de segurança ideais possam requerer mais 5 anos de derretimento da calota do Polo Norte.

“Com reservas petrolíferas que já foram estimadas pelo Kremlim em 586 bilhões de barris - algo em torno de 100 vezes maior do que o potencial do mega-campo brasileiro de Tupi -, o mar de Barents, entre a Noruega e a Rússia, poderá em breve se transformar em um novo eldorado energético e já afeta as estratégias de defesa desses países” - informa o jornalista Daniel Rittner, de Estocolomo, em publiação do Valor Econômico de 19 de maio de 2008. A Noruega já encomendou 48 novos caças militares para proteger essas rotas.

Para os “verdes”, que não gostam de Real Politik ambiental, vale dizer que nos dias 27 e 28 de maio, reuniram-se, na capital da Groenlândia, Illulissat, representantes da Rússia, Canadá, EUA, Dinamarca e Noruega para discutir o controle das reservas petrolíferas e minerais que se abrem rapidamente à exploração comercial em decorrência do degelo. “Cientistas norte-americanos estimam que na região encontram-se 25% das reservas mundiais de petróleo e gás natural”.

A Groenlândia é um “estado” autônomo da Noruega. Nos termos dos tratados internacionais em vigor, cada país tem direitos exclusivos sobre a exploração dos recursos naturais numa faixa de 200 milhas. Mas qualquer país pode ir além desses limites se provar que a sua plataforma continental é mais extensa.

Esses países pretendem abocanhar o maior pedaço possível dessa áreas alegando tratar-se de um prolongamento de suas plataformas continentais. Na prática, as possibilidades maiores são da Rússia, do Canadá e da Dinamarca, mas os EUA não se contiveram e enviaram a tediosa Condoleezza Rice à reunião.

Lutam para queimar mais petróleo, principal causa das mudanças climáticas, e falam em proteger a Amazônia e a biodiversidade. Maior cinismo é impossível. Sobretudo quando a Noruega anuncia que será a primeira doadora do Fundo Brasil Amazônia para a proteção das florestas. Doará talvez o equivalente ao preço dos caças militares comprados para proteger os seus interesses nas jazidas de petróleo agora acessíveis em decorrência do degelo no Ártico.

A Anistia Internacional divulgou relatório falando sobre terras indígenas e silenciando sobre o genocídio cometido pelos norte-americanos no Iraque, bem como sobre a decisão dos EUA de expandir as prisões abusivas do tipo Guantánamo para outros países. Dose adicional de cinismo no tabuleiro das relaçôes internacionais.

(Por Luiz Prado, Portal do Meio Ambiente, 29/05/2008)


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