A Anistia Internacional (AI), no seu relatório anual sobre os direitos humanos, divulgado na última quarta-feira, 28, destacou a violência contra os povos indígenas dentre as diversas violações aos direitos humanos praticadas no Brasil em 2007. A publicação apresenta casos de assassinatos de indígenas, de exploração de mão-de-obra escrava em canaviais e de perseguição de lideranças.
No documento, a Anistia afirma que “ativistas rurais e povos indígenas que realizam campanhas por acesso à terra foram ameaçados e atacados por policiais e por seguranças privados.”
O relatório cita os casos dos Guarani Kaiowá Xurete e Ortiz Lopes, no Mato Grosso do Sul, como exemplos de assassinatos em conflitos fundiários. Ainda em relação ao Mato Grosso do Sul, o levantamento destaca a exploração dos Guarani Kaiowá como mão-de-obra escrava em canaviais no estado. Em 2007, em duas operações do Ministério do Trabalho, foram libertados 980 indígenas, a maioria destes era Guarani.
Além dos impactos sociais causados pela expansão do setor canavieiro, dentre as causas dos conflitos fundiários, estão: a expansão de outras monoculturas como soja e eucaliptos, a extração ilegal de madeiras, a mineração e projetos de infra-estrutura, como a construção de represas e o projeto de Transposição do rio São Francisco.
Perseguição
A Anistia também apresentou casos, no relatório, de perseguição aos defensores dos Direitos Humanos. Dentre estes, destacou a situação do cacique Marcos Luidson, do povo Xukuru (Pernambuco), que, após receber ameaças, precisou receber proteção policial. Entre os Xukuru, diversas lideranças, além de perseguidas, são criminalizadas.
Casal Guajajara é baleado no Maranhão
Na manhã do dia 23 de maio, dois homens encapuzados atiraram em um casal do povo Guajajara que caminhava na estrada MA-006, próximo da aldeia Bacurizinho, município de Grajaú, no Maranhão. É o segundo ataque em duas semanas no estado, o que fez crescer muito a tensão na região, deixando o povo acuado em suas aldeias.
Os homens que atiraram contra Itamar Carlos Guajajara, de 35 anos, e Deolice Rodrigues Guajajara, de 30 anos, aparentemente não tinham motivos para o ataque. O casal andava pela estrada, quando os atiradores ordenaram que os indígenas parassem, do contrário seriam mortos. O casal parou, mas, mesmo assim, os homens dispararam, atingindo Itamar com uma bala que perfurou seu pulmão.
Deolice também foi alvejada por traz, na coxa direita. O casal foi hospitalizado, mas já recebeu alta e voltou para aldeia. A Polícia Federal já foi à região apurar o caso, mas até o momento nenhum dos atiradores foi identificado.
Assassinato
Este caso se assemelha ao da menina Guajajara, de seis anos de idade, assassinada no dia 5 de maio. Ela recebeu um tiro na cabeça enquanto assistia televisão numa casa às margens da mesma rodovia MA-006, próximo do município de Arame. Segundo os missionários do Cimi que atuam no Maranhão, existe a suspeita de que um grupo de extermínio esteja agindo contra os indígenas.
Um dos suspeitos de matar a menina Guajajara foi preso. Isso está causando uma reação da população de Arame contra os indígenas. “As ameaças cresceram. Os indígenas estão acuados em sua própria terra. Não podem ir à escola na cidade e parte da assistência à saúde foi suspensa.”, explica Rosemeire Diniz, coordenadora do Cimi-Maranhão.
(CIMI, 29/05/2008)