"A ExxonMobil comporta-se atualmente como um dinossauro. A ExxonMobilosaurus Rex deve desaparecer!" O conflito entre o CEO da ExxonMobil, Rex W. Tillerson, e uma coalizão de acionistas hostis à sua política voltada exclusivamente para o petróleo foi desencadeado por ocasião da assembléia geral do grupo petroleiro, na quarta-feira (28/5), em Dallas, Texas (EUA). Além de tudo, não se tratavam de quaisquer acionistas, uma vez que a rebelião ecologista foi conduzida por grandes fundos de pensão e, de maneira mais simbólica, por herdeiros do magnata John D. Rockefeller (1839-1937), o fundador da Standard Oil Co (1870), uma companhia que acabou se transformando na ExxonMobil*.
Os mais ativos dentre os rebeldes não conseguiram matar o dinossauro, enquanto os moderados fracassaram nas duas frentes. Eles reclamavam uma separação das funções de presidente e de diretor geral, as quais atualmente são cumuladas por Rex Tillerson. O primeiro cargo passaria a ser ocupado por uma personalidade independente, a exemplo dos organogramas de outros gigantes do petróleo como a Shell (companhia anglo-holandesa) e a BP (britânica), cujas organizações permitem levar em conta de modo mais eficiente os principais interesses em jogo de um ponto de vista global e num futuro próximo. A sua proposta foi aprovada por 39,5% dos votos apenas.
"Desconfiança e indiferença"
As suas tentativas também foram fracassadas no que diz respeito às energias "verdes". Rex Tillerson repetiu o credo da companhia, que também havia sido seguido à risca pelo seu predecessor, Lee R. Raymond: "Temos de continuar fazendo tudo o que nos for possível para produzir petróleo e gás natural: este é o coração da nossa profissão. Foi o que nós fizemos ao longo de 125 anos. E nós não vamos abandonar isso quando nós sabemos que se trata de uma necessidade da sociedade para o futuro". Vale reconhecer que os acionistas até hoje nunca tiveram razões para se queixar desta política, uma vez que, para cada US$ 1.000 que eles investiram em 1987, eles possuem atualmente US$ 19.000.
Fortalecidos pelas críticas formuladas por alguns eleitos do Congresso, 19 investidores institucionais que representam 1,72% do capital, além de representantes de organizações ecologistas, de igrejas e ainda tesoureiros de Estados da União, reclamaram à ExxonMobil maiores investimentos nos setores das energias renováveis e das tecnologias que permitem reduzir as emissões de CO2. Segundo eles, Rex Tillerson e o conselho de administração se mostram obcecados pelos resultados imediatos, que se concretizaram em lucros de US$ 40 bilhões em 2007 (R$ 70 bilhões, o que faz dela a companhia mais lucrativa no mundo). Também neste caso, os dirigentes da ExxonMobil foram aconselhados a seguirem os exemplos da Shell e da BP, que, já faz muitos anos, diversificaram as suas atividades, abrindo-se para os setores alternativos da energia solar, da biomassa e da energia eólica.
"A Exxon sempre alimentou uma cultura da desconfiança e da indiferença em relação a um grande número de assuntos de preocupação de longo prazo formulados pelos seus acionistas", lamentava um administrador dos ativos do fundo de pensão da Cidade de Nova York, às vésperas da reunião de Dallas. "Em vez de insistir em se mostrar recalcitrante", confirmava um dos seus colegas, representante do poderoso fundo de aposentadoria californiano Calpers, "a melhor coisa que ela poderia fazer seria tomar a frente das companhias que se dedicam a fornecer soluções para o problema do aquecimento climático". Esta atitude seria norteada tanto por interesses ecológicos quanto econômicos, uma vez que os investimentos no desenvolvimento sustentável se revelam rentáveis, comentaram outros acionistas.
Nesse sentido, eles pediram à ExxonMobil -sem sucesso- para que esta assumisse vários compromissos, os quais incluem uma diminuição das emissões de CO2 (nas refinarias); a adoção de um programa visando a incluir a companhia entre os líderes na implantação das tecnologias que garantem a independência energética dos Estados Unidos; o desenvolvimento das energias renováveis, além da criação de uma força de trabalho visando a estudar as conseqüências da mudança climática para os países pobres. Esta resolução, que era apoiada por Neva Rockefeller Goodwin, a bisneta do magnata do petróleo, não obteve mais do que 10,4% dos votos.
Rex Tillerson lembrou que a ExxonMobil havia investido US$ 2 bilhões (R$ 3,33 bilhões) desde 2002 em pesquisas visando a reduzir as emissões de gases de efeito-estufa, e que ela dará prosseguimento a esses esforços. Alguns observadores, membros de ONGs ecologistas, lamentaram que Tillerson nunca tivesse revelado o montante da quantia que o grupo - dono da maior capitalização em bolsa mundial -gastou com as suas operações de lobby destinadas a negar a responsabilidade das companhias petroleiras no aquecimento climático.
*Nota do tradutor: constituída a partir da fusão, em 1999, entre a Exxon Corporation e a Mobil Oil Corporation, respectivamente a 2ª e a 3ª maiores companhias do setor na época, atrás da Shell, a Exxon Mobil Corporation ostenta hoje um faturamento anual de US$ 404 bilhões. Este valor equivale ao do orçamento do Departamento da Defesa dos Estados Unidos, e também ao do PIB da Suíça, sendo superior, portanto, ao PIB de 179 dos 195 países reconhecidos pela ONU
(Por Jean-Michel Bezat, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 30/05/2008)