O senador José Nery (PSOL-PA) acusou o governo de impor um "vale-tudo" para garantir o licenciamento ambiental do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, mesmo sabendo que a obra irá afetar profundamente a vida de 16 mil pessoas, entre elas integrantes de 14 povos indígenas do estado do Pará.
O parlamentar lamentou que um incidente entre indígenas e um engenheiro da Eletrobras, que teve o braço ferido por facão, tenha prevalecido na mídia, a despeito do sucesso do encontro Xingu Vivo para Sempre, em Altamira (PA), na semana passada. O encontro foi convocado para denunciar os projetos hidrelétricos federais na bacia do rio Xingu.
- Belo Monte é o projeto mais emblemático da conversão do governo ao velho ideário desenvolvimentista, antes denunciado, mas agora incluído no PAC como uma espécie de lei universal, que se sobrepõe à legislação ambiental e à Constituição e que dispensa considerações à vida e ao futuro dos povos do Xingu, vistos como meros empecilhos - avaliou.
José Nery considerou "leviana" a tentativa de atribuir responsabilidade pelo incidente com o engenheiro da Eletrobrás aos organizadores do encontro e militantes solidários às causas indígenas. Tachou ainda de "deplorável" que um delegado da Polícia Federal "se preste a papel tão indigno" que é a defesa da "tese fantasiosa" de ligação entre a compra dos facões em um armazém de Altamira e o incidente com o engenheiro. O objetivo da tese, acredita, é tentar "criminalizar religiosos e lideranças populares" que defendem os indígenas.
Além de condenar a construção de hidrelétricas no rio Xingu, o senador do PSOL acusou o governo de lentidão nos processos de reconhecimento das terras indígenas em todo o país, observando que os orçamento para demarcação e regularização de terras são extremamente reduzidos.
No mesmo discurso, cumprimentou os geógrafos pelo seu dia, comemorado desde 1979, quando foi regulamentada profissão.
(Por Eli Teixeira, Agência Senado, 28/05/2008)