A acusação feita em países desenvolvidos de que a produção de biocombustíveis estaria entre as causas da falta de alimentos no mundo foi contestada pela embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, cuja indicação para o cargo de delegada permanente do Brasil em Genebra recebeu nesta quinta-feira (29/05) parecer favorável da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
- Hoje se diz que os biocombustíveis prejudicam a produção de alimentos, mas isso não é verdade. Na África, onde não se produzem biocombustíveis, existe fome - ressaltou a embaixadora, em resposta a um questionamento feito pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), relator de sua indicação.
Ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Nazareth foi encarregada de coordenar as negociações em torno da Iniciativa Global contra a Fome e a Pobreza. Após um ano e meio de debates, relatou ela aos senadores, realizou-se uma reunião sobre o tema em setembro de 2004 com a presença de 60 chefes de Estado, da qual resultou uma declaração onde se ressalta a necessidade de se encontrarem soluções inovadoras para o combate à pobreza.
Ao responder a uma pergunta de Collor, a respeito da atual situação internacional em relação à segurança alimentar, a embaixadora disse que a boa notícia é que há mais gente comendo no mundo. E a má, que não há comida suficiente para todos. Ela criticou os subsídios agrícolas praticados por países desenvolvidos, que teriam desestimulado a produção local de alimentos em diversas partes do mundo.
Em sua exposição inicial aos senadores, Nazareth afirmou que aproximadamente dois terços dos trabalhos da Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolvem-se, atualmente, em Genebra. Além do escritório da ONU, disse ela, estão ali localizados, entre outros organismos, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Durante o debate na comissão, o senador José Agripino (DEM-RN) observou que os temas a serem enfrentados pela embaixadora em Genebra - como meio ambiente e direitos humanos - são "nitroglicerina pura". O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez um apelo a Nazareth para que se empenhe na busca de uma solução para as pessoas seqüestradas na Colômbia, entre as quais a ex-senadora Ingrid Bettancourt.
O senador Gerson Camata (PMDB-ES) compareceu à reunião para prestar uma homenagem à embaixadora, que nasceu no estado do Espírito Santo. E o senador Mão Santa (PMDB-PI) elogiou a educação das pessoas que vivem em Genebra
(Por Marcos Magalhães, Agência Senado, 29/05/2008)