Pela primeira vez, o relatório da FAO e da OCDE incluiu análises específicas sobre o mercado de biocombustíveis. De acordo com o texto, três fatores principais vão pressionar o preço dos alimentos: o crescimento da demanda nos países emergentes, a alta do preço do petróleo e os biocombustíveis.
"O crescimento da demanda mundial por biocombustíveis será responsável por um terço do aumento dos preços dos alimentos previsto para os próximos dez anos", afirmou, em Paris, Loek Boonekamp, coordenador do estudo para a OCDE.
O relatório também indica que a produção mundial de biocombustíveis vai dobrar nos próximos dez anos. Mas essas previsões, que poderiam ser consideradas otimistas, não levam em conta possíveis mudanças que seriam acarretadas por novas políticas de energia nos EUA e na Europa.
Nos últimos meses, governos europeus têm demonstrado uma mudança de humor com relação aos biocombustíveis. As críticas, antes restritas a ambientalistas, têm ganhado cada vez mais espaço entre governos e organizações internacionais, reticentes com relação aos custos ambientais, sociais e econômicos da produção.
Tanto a FAO como a OCDE criticaram as subvenções concedidas ao setor dos biocombustíveis, principalmente na Europa e nos EUA. O álcool brasileiro é apontado como um exemplo à parte, mais rentável e viável economicamente. "No Brasil, a queda dos preços do açúcar no mercado internacional, aliada a um forte excedente mundial, aumentou a viabilidade e a rentabilidade da produção do álcool", afirma o estudo.
As dúvidas, porém, persistem. Questionado sobre o álcool brasileiro, o coordenador do relatório para a OCDE explicou que a entidade publica, no final de junho, estudo sobre o impacto das políticas de apoio a biocombustíveis. "O que posso adiantar é que, em todos os pontos analisados, os benefícios que pensávamos tirar dos biocombustíveis são menores do que imaginávamos."
O relatório diz, ainda, que o Brasil vai continuar sendo o principal produtor e exportador de açúcar e álcool. As projeções indicam que a parte das lavouras de cana-de-açúcar destinada à produção do álcool brasileiro vai passar de 51% médios registrados no período de 2005-07 para 66% em 2017.
O texto indica, ainda, que os estoques mundiais de alimentos não vão aumentar nos próximos dez anos. As pressões mais fortes devem ocorrer no mercado de cereais e oleaginosas. As duas entidades afirmam que a utilização de cereais para a produção de biocombustíveis, principalmente nos Estados Unidos e Europa, vão pressionar os estoques mundiais, "que já registram níveis críticos". Segundo o estudo, a forte demanda por milho para uso como combustível nos EUA modificou, profundamente, o mercado mundial de cereais.
(Folha de São Paulo, 30/05/2008)