O Brasil foi nomeado ontem para receber a Motosserra de Ouro na Conferência das Partes sobre Convenção da Diversidade Biológica (CDB/COP9). O prêmio, dado pelo Greenpeace ao país que mais atrapalhou as negociações para conservação da biodiversidade desta vez vai para o Brasil pelo conjunto de suas posições nos diversos temas da conferência. A premiação acontece no dia em que o novo ministro do meio ambiente, Carlos Minc, chega à Bonn, na Alemanha, para inaugurar a segunda etapa do programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que prevê a criação de mais 20 milhões de hectares de áreas protegidas até 2012 com 105 milhões de dólares.
A insistência da delegação brasileira em transformar a convenção em um balcão de negócios para os agrocombustíveis foi determinante para o prêmio desta quinta. O país resiste em aceitar que o tema seja discutido, afirmando que, se for deste jeito, que se debatam todas as outras fontes de energia. Resultado: discussões bloqueadas. Criticou as objeções dos paises europeus à expansão da cana de açúcar por razões de mercado. Mas, por esse mesmo motivo, não quis falar em principio da precaução, defendendo que os cultivos não colocam segurança alimentar nem a Amazônia em risco.
Segundo Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, o Brasil tem razão em querer pleitear espaço no mercado para seus agrocombustíveis, mas para ser um vendedor competente vai precisar dar garantias de que sua produção não acarretará em prejuízos sócio-ambientais. Mas, com problemas críticos de governança em todo território nacional, confiar neste compromisso é meio arriscado demais.
O Brasil também foi mal nas outras linhas de debate. Não se cansou em declarar que o desmatamento na Amazônia está diminuindo, quando todas as tendências apontam para seu recrudescimento. Foi o único país que se opôs ao estabelecimento de um grupo de especialistas para discutir medidas concretas para reduzir emissões oriundas de desmatamento. E até nas discussões sobre oceanos empacou. Forçou a barra para adiar um consenso na identificação de reservas marinhas em alto mar.
(O Eco, 28/05/2008)