O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) José Tubino elogiou, nesta quinta-feira (29/05), o projeto brasileiro para utilizar áreas degradadas na produção de etanol. Para a entidade, essa medida mostra que o Brasil está disposto a investir em biocombustíveis sem comprometer a produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental. Na avaliação da FAO, complementou Tubino, "esse projeto evitará a expansão da fronteira agrícola e os desmatamentos".
Ele participou de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural sobre os biocombustíveis produzidos pelo País e as críticas de países europeus à política brasileira para o setor. Todos os participantes do debate contestaram as alegações de que a produção de biocombustíveis pode comprometer o abastecimento de alimentos e gerar uma crise internacional.
O representante da FAO ressaltou ainda as iniciativas brasileiras para estimular a agricultura familiar e o zoneamento ecológico para as novas áreas de cultivo de cana-de-açúcar. "São propostas importantes, embora exijam medidas rigorosas de fiscalização", ressalvou.
José Tubino disse também que a FAO reconhece a experiência do País de mais de 30 anos no setor de biocombustíveis, desde o Programa de Álcool Brasileiro (Pro-Álcool), instituído em 1975. "A contribuição do Brasil é significativa para o debate sobre eficiência energética e a redução de poluentes", frisou.
Produção de alimentos
O diretor de Financiamento do Departamento de Proteção da Produção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Arnoldo Campos, disse que o argumento contra os biocombustíveis brasileiros é equivocado. "A crise é resultado de uma combinação de fatores econômicos, políticos e climáticos", explicou.
Campos ressaltou que, no caso do Brasil, a produção de alimentos tem crescido em quase todas as áreas, especialmente no setor de grãos, como milho e soja: "O Brasil registra um superávit agrícola e o setor está em franca expansão, o que mostra que não existe interferência negativa nenhuma do etanol." Para o convidado, os problemas registrados no País são pontuais. "O problema com a produção de feijão já foi superado e no caso do arroz e do trigo será superado brevemente", reforçou.
Alta do petróleo
O coordenador-geral de Agroenergia da Secretaria de Produção do Ministério da Agricultura, Frederique Rosa e Abreu, também ressaltou que a produção de biocombustíveis no Brasil não compromete a produção de alimentos. "A crise internacional que afeta os alimentos é resultado da alta dos preços dos fertilizantes, insumos agrícolas e do petróleo", disse.
Ele destacou ainda que os biocombustíveis têm um papel fundamental na matriz energética brasileira. "Por exemplo: o etanol hoje substitui 40% da gasolina brasileira. Não só isso. Agora o etanol superou a hidreletricidade. Hoje no Brasil nós consumimos mais energia oriunda do etanol do que de hidrelétricas. Então, é um setor extremamente importante para a nossa economia. Os ataques são muitas vezes infundados", afirmou.
Os ataques citados por Frederique foram feitos pelo ex-relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, que classificou a produção de combustíveis a partir de alimentos como um crime contra a humanidade.
O deputado Betinho Rosado (DEM-RN) também criticou as declarações de Ziegler. Segundo o parlamentar, elas criaram um ambiente constrangedor para os países que produzem ou pretendem expandir a produção de biocombustíveis.
(Por Antonio Barros e Mônica Montenegro, Agência Câmara, 29/05/2008)