Os defensores da biodiversidade terão em breve a sua disposição um instrumento tão poderoso para avaliar o desaparecimento das espécies animais e vegetais que o Painel Intergovernamental para Mudanças Climática, o IPCC, vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2007. Um passo à frente decisivo rumo à criação desse IPCC da biodiversidade foi dado na quinta-feira, em Bonn, onde foi realizada a conferência dos países membros da Convenção da ONU para a Diversidade Biológica (CDB).
"Decidiu-se convocar uma reunião intergovernamental para novembro com o objetivo de concluir e lançar esse mecanismo", declarou à AFP Didier Babin, que dirige o projeto há três anos. Essa decisão que foi adotada em grupo de trabalho, deverá ser retificada na sexta-feira (30) em sessão plenária pela conferência. "Estamos nos trilhos. É necessária uma validação política de alto nível", afirmou ele, acrescentando que a reunião de novembro, cujo local ainda não foi escolhido, poderá ser realizada em nível ministerial.
A idéia é instaurar uma rede de especialistas que possa desempenhar pela biodiversidade o mesmo papel de interação entre os cientistas e políticos que os especialistas do IPCC para o aquecimento global. A biodiversidade é um desafio maior, tanto para a redução da pobreza, para o aprovisionamento de água potável, para o fim dos conflitos ligados à utilização e à apropriação de recursos renováveis, quanto para a saúde.
Mas devido à complexidade dessas questões, a comunidade científica que estuda esse tema está muito fragmentada, e suas idéias não chegam aos ouvidos dos líderes políticos. "A informação científica sobre a biodiversidade está muito dispersa. É preciso estabelecer relatórios que tenham impacto", considerou Didier Babin. Para Abdul Zakri, que co-presidiu a Avaliação do Milênio dos Ecossistemas do Planeta de 20O1 a 2005, "o IPCC é verdadeiramente um modelo muito forte no qual é preciso se inspirar para realizar avaliações sobre a biodiversidade".
Os três pontos fortes do grupo de especialistas sobre o clima devem ser a "credibilidade científica", a "pertinência" e a "legitimidade política". A erosão da biodiversidade é tão grave quanto as mudanças climáticas, mas a problemática suscitada carece de visibilidade. "Não é um proceso claro como o do aquecimento global, com o derretimento das geleiras do Árctico e da neve do Kilimanjaro", explicou à AFP Abdul Zakri, hoje diretor do Instituto para os Estudos Avançados das Nações Unidas no Japão.
Se o clima representa um desafio mundial, comum ao conjunto da humanidade, a biodiversidade também abrange os desafios nacionais de maneira mais direta, como a proteção dos mangues, a pesca predatória, o desmatamento. "Com isso, alguns países tendem a proteger de maneria egoísta sua soberania", ressaltou Abdul Zakri. Portanto, "temos muito a aprender sobre o planeta", acrescentou.
Um IPCC da biodiversidade permitiria "organizar melhor as informações básicas e fazer alguns temas emergirem", considerou Didier Babin. Por exemplo, "se pudéssemos dispor de um relatório completo sobre o impacto dos biocombustíveis sobre a biodiversidade há um ano, conseguiríamos avançar muito mais rápido nessa questão em Bonn", afirmou Babin. A idéia da criação de um IPCC da biodiversidade foi mencionada em janeiro 2005 em Paris, durante uma confêrencia internacional, por iniciativa do presidente Jacques Chirac.
(Yahoo!, Ambiente Brasil, 30/05/2008)