"Trata-se de um banco com pouca tradição de investimentos na área ambiental e que tem em sua carteira de clientes empresas que não se preocupam em adotar padrões adequados de gestão ambiental. Pesa contra o banco estatal também o fato dele não ser signatário dos 'Princípios do Equador' - documento que estabelece critérios ambientais mínimos para a operação dos bancos". Esta foi a crítica de Sérgio Abranches, em seu comentário de ontem (29/05) na rádio CBN, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A crítica encontra eco no próprio setor financeiro: "como principal financiador de grandes projetos no Brasil, é vergonhoso que o BNDES ainda não tenha assinado os Princípios do Equador", disse um executivo de banco privado que prefere não ser identificado. Paulo Faveret, economista do próprio banco, também é bem crítico: "o que o BNDES faz que um banco comercial não faria se tivesse o FAT?"
A sociedade civil e movimentos sociais também criticam o banco. No início de 2007 várias dessas organizações se reuniram e criaram a Plataforma BNDES, uma articulação que pretende incidir sobre as políticas e estratégias do banco. Adeilson Telles, diretor-executivo da CUT, uma das organizações que compõem a Plataforma, comenta que "é necessário que a sociedade civil cobre com mais força, estabeleça critérios e tenha maior esclarecimento sobre os investimentos do BNDES".
AmazôniaO debate sobre a preservação da região amazônica e seu desenvolvimento de forma sustentável ganha corpo a cada dia. O último capítulo dessa saga se deu quando o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou as intenções do governo em criar um fundo financeiro para a Amazônia. Tal fundo será gerido pelo BNDES, e servirá como fonte de recursos para manter a floresta em pé. A primeira doação virá do governo da Noruega, que depositará algo em torno de US$100 milhões, a serem investidos em projetos de manejo e preservação da região.
A iniciativa agradaria grande parte dos atores preocupados com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Entretanto, a forma como está sendo apresentada ainda recebe algumas ressalvas. Sérgio Abranches, em seu comentário de hoje na Rádio CBN, disse: "È uma idéia importante. Mas, precisamos nos perguntar 'fundo pra quê'? Esse aí [apresentado por Minc] não está inserido em uma política clara. È apenas pra manejo florestal? Mas com que capacidade se impõe e fiscaliza as regras com o desmatamento aumentando e essa desordem fundiária?"
Gustavo Pimentel, Gerente de Eco-Finanças da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, ONG que também faz parte da Plataforma, aponta contradições na atuação do banco na Amazônia: "com uma mão o banco gere um fundo e outros programas que apóiam a conservação. Com outra, financia projetos que causarão grande destruição na região, como as usinas do Rio Madeira. O problema é que os recursos para a destruição ainda são muito maiores", diz.
Abranches completa: "Esse fundo deve financiar uma política nova, que realmente proteja a floresta. Para isso tem que ter metas de redução do desmatamento, empenho em investimento do governo para atingir essa metas. E para financiar um novo desenvolvimento para a Amazônia valorizando a biodiversidade, baseado em educação, ciência, tecnologia, informação... para financiar um futuro de mais renda e desenvolvimento humano sem desmatamento. Agora, botar um fundo na desordem que está a Amazônia hoje, na contramão das políticas do governo, será uma desmoralização".
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Amazonia.org.br, 29/05/2008)