O governo Paulo Hartung "vem afrouxando na fiscalização e banalizando a autorização e implantação de empresas poluidoras em detrimento da saúde do povo capixaba e do meio ambiente". A denúncia é do deputado Euclério Sampaio (PDT). Por duas vezes, nesta semana, o deputado denunciou crimes ambientais, incluindo a destruição do Rio Doce, em Colatina.
Da tribuna da Assembléia, o deputado Euclério Sampaio observou que está acompanhando, atentamente, "os projetos industriais implementados na gestão do atual governo do Estado, sempre com a máxima de aumento de arrecadação e suposta geração de emprego". Este é o argumento que o governo usa para afrouxar na fiscalização e autorização dos projetos poluidores.
Assinalou que "não podemos mais conviver com o desenvolvimento a qualquer custo e nos sujeitar a que tudo gire em face dos grandes empresários, ou melhor, das grandes poluidoras". Cita a Vale, a "Samarco que também é da Vale, a Baosteel e por aí vai".
O deputado lembra que "para facilitar a vida das poluidoras, o governo quer facilitar a avaliação de impacto ambiental em total detrimento ao meio ambiente, que já não é mais respeitado no Estado, pelo menos pelo governo. Conceder autorização ambiental sem um estudo mais aprofundado, sem o impacto sócio-ambiental, é expor a população ao risco cumulativo de poluentes, o que já ocorre, ocasionando sérios danos à saúde do nosso povo, que vive doente no seu dia-a-dia, a degradação do meio ambiente e a nossa autodestruição".
Euclério Sampaio segue o discurso: "O desenvolvimento fácil atrai miséria, fome, piora ainda mais a escassez de vagas nos hospitais, nas escolas, agrava a questão da segurança, que já é péssima. O desenvolvimento é bom? É, mas a qualidade de vida de nosso povo tem que ser melhor. Podemos pensar em um desenvolvimento sustentável e não em desenvolvimento insustentável".
Diz que "recentemente tive a oportunidade de ver os quadros do artista plástico Kleber Galvêas sobre uma grande poluidora, a Vale, e fiquei abismado com o que vi. Os quadros são pintados com a poluição das usinas. Se a poluição da usina faz aquilo nos quadros, imaginem o que faz com a nossa saúde? Onde estão as autoridades do meio ambiente?"
Ele aponta que "em outros estados quiseram fazer a farra das licenças e houve a intervenção do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. Estive visitando o norte do Estado, mais precisamente a cidade de Colatina, e fiquei estarrecido com o que estão fazendo com o Rio Doce, e isso com a chancela do Estado".
Euclério Sampaio assinala que "em um momento que todos gritam pela falta de água e pela preservação do meio ambiente, sob o argumento de se expandir uma avenida, parte do leito de um rio, que já está há muito sendo assoreado pelos desmandos do homem, é aterrado".
Para ele "o caso é sério. É caso de polícia o que estão fazendo em Colatina. E ninguém faz nada. Onde estão as autoridades do meio ambiente? Para que existir a Comissão Interparlamentar do Rio Doce? Repito, onde estão as autoridades responsáveis pelo meio ambiente, que não vêem esse absurdo? Será que todas são adeptas do 'não vi nada', 'não vejo nada'? Todos estão aprendendo isso?"
O deputado afirmou que denunciou a destruição do Rio Doce em Colatina ao presidente da Comissão Interparlamentar do Rio Doce (Cipe-Rio Doce), que é de Minas Gerais. E afirma que "o povo está estarrecido com essa obra, que é feita com a chancela do governo do Estado".
O deputado alertou que ouviu "a população do município de Colatina e percebemos que o povo não está aceitando essa obra. Tudo bem que querem aumentar a avenida Beira Mar, mas daqui a alguns anos, quando faltar água, será que a transformarão novamente no Rio Doce? Será que conseguirão desfazer esses desmandos? Será que o povo de Linhares e cidades vizinhas estão sabendo dos desmandos praticados no município de Colatina? Será que vale a pena o desenvolvimento ao custo da vida do povo do Estado para realizar o sonho de um ou outro político? Achamos que não. Por que criar uma Cipe, se nada é resolvido?".
Quer saber: "Não sabemos que 'força maior' está fazendo com que essa obra não seja embargada".O deputado afirma que "as autoridades sequer se preocupam em minimizar o sofrimento do povo, porque junto com os grandes investimentos vêm os bolsões de pobreza, o agravamento da saúde, da segurança e da educação. Se pelo menos viesse algum benefício para minimizar o sofrimento do povo, tais como a melhoria da qualidade de vida, a construção de hospitais de grande porte, projetos relevantes na segurança pública, melhoria nas escolas estaduais, qualificação profissional do nosso povo. Mas não, junto com os grandes investimentos, vem também mão-de-obra qualificada de outros estados, bolsões de pobreza, fome etc".
O deputado segue afirmando que critica, mas apresenta soluções. Diz: "No dia 25 de março apresentamos uma indicação ao governo do Estado, pedindo a construção de dois grandes hospitais, um no município de Cariacica e outro no município de Vila Velha, nos moldes do hospital São Lucas, com todas as especialidades, inclusive traumas, porque atualmente, se um paciente precisar ser atendido com urgência, até sair desses dois municípios para chegar ao hospital São Lucas, que na verdade é um verdadeiro açougue, será surpreendido pelo trânsito; esses grandes investimentos não trazem esses benefícios para o nosso povo".
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 29/05/2008)