Este é o problema por trás. Aqueles que buscam proteger efetivamente a natureza, tornando zonas do oceano fora dos limites e permitindo que as florestas permaneçam intocadas, devem assegurar que as pessoas que dependem delas para seu sustento tenham novas oportunidades. A solução nas Bahamas se chama ecoturismo.
Andros fica a um vôo de 15 minutos de Nassau. A ilha, com aproximadamente 170 quilômetros de extensão, é lar de cerca de 8 mil pessoas e a terceira maior barreira de corais do mundo fica além de sua costa leste. Moradores da ilha como Peter Douglas levam os poucos turistas da ilha a passeios por bancos de corais coloridos, luminescentes, e penhascos submarinos. Os ilhéus empreendedores desenvolveram ecoalbergues na mata atrás da costa. Prescott Smith, por exemplo, oferece férias para pesca com vara para executivos ricos. Por US$ 1.600 por dia, seus clientes podem aprender a lançar elegantemente suas iscas nos mangues da ilha para pescar ubarana-rato ou camurupim. Mas em vez de ficarem com sua pesca, eles aderem à política de "pescar e soltar".
Os ilhéus estão defendendo seu pequeno paraíso contra investidores em turismo de massa. Eles encontraram formas de lucrar com a natureza sem destruí-la. "Cientistas, governos e grandes grupos de conservação estão combatendo os moradores locais", disse Prescott Smith. "Eles chegam aqui e dizem: vocês são o problema." Mas a verdadeira conservação, segundo Smith, deve incorporar a população local. "Apenas se as pessoas daqui realmente sentirem que seus próprios interesses estão em jogo é que elas protegerão o país."
De fato, enquanto o mundo se reúne para discutir a CDB, esses projetos de pequena escala, de baixo para cima, podem ser a melhor esperança para o mundo. Essa abordagem de base é especialmente válida em locais onde a pobreza é disseminada. Os pobres não têm outra escolha a não ser viver dos recursos da natureza e, se necessário, destruí-los. Esta também é uma questão que será discutida na conferência de Bonn nos próximos dias.
Mas acima de tudo, os membros da CDB devem tentar estabelecer um foco para os próximos dois anos. A 10ª Conferência das Partes da CDB ocorrerá em 2010, presumivelmente no Japão. Até lá, os grupos esperam ter implantado muitas de suas metas ambientais ambiciosas.
"Em Bonn, é especialmente importante que as partes não bloqueiem umas às outras em questões importantes", disse o diretor de conservação Flasbarth, do BMU. Os pontos de atrito são previsíveis. Quando a CDB surgiu, por exemplo, muitas partes queriam ver o estabelecimento de mecanismos para assegurar um equilíbrio justo de benefícios entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. A idéia era de que todos deveriam poder se beneficiar dos tesouros genéticos do planeta. Ao mesmo tempo, argumentavam as partes, as populações dos países de origem das espécies lucrativas também deveriam compartilhar os lucros.
Mas nos 16 anos desde que ocorreu a Cúpula da Terra do Rio, as regras para tratar deste problema ainda não foram estabelecidas. Os países em desenvolvimento nutrem suspeitas, porque biopiratas já saquearam parte de seus tesouros biológicos. No início de maio, por exemplo, foi noticiado que moradores da aldeia sul-africana de Alice estavam contestando duas patentes, de propriedade da empresa alemã Dr. Willmar Schwabe Arzneimittel, para produção da droga Umckaloabo. O Umckaloabo é feito das raízes da Capeland pelargonium. Os moradores locais alegam que preparam uma solução a partir da planta há séculos, que utilizam para tratar resfriados.
Eles alegam que com base neste conhecimento, a Spitzner, uma subsidiária da Schwabe, agora produz o Umckaloabo. "As patentes são ilegais e devem ser anuladas", disse Mariam Mayet, do Centro Africano para Biossegurança. Além disso, disse Mayet, a empresa deve à população de Alice um percentual dos lucros.
Outro motivo de discussão é o boom dos biocombustíveis. A chanceler alemã Merkel fez pouco para reduzir as tensões quando assinou recentemente um tratado de energia com o presidente Lula do Brasil. Os brasileiros vêem a preocupação alemã com a Floresta Amazônica como uma tentativa de controlar o mercado de biocombustíveis. Para produzir o bioetanol, eles planejam plantar cana-de-açúcar em uma área quase tão grande quanto o Reino Unido até 2025. "Se dissermos aos brasileiros que boicotaremos isso, as negociações em torno da proteção da floresta tropical terão um fim abrupto", alertou Gabriel, o ministro do Meio Ambiente alemão. A simples tentativa de colocar o assunto da bioenergia na agenda da conferência de Bonn foi recebida com indignação em Brasília. Continua - leia a parte 7
(Por Philip Bethge, Rafaela von Bredow e Christian Schwägerl, Deutsche Welle, tradução de George El Khouri Andolfato, UOL, 29/05/2008)