Griffiths teme que um sistema de proteção florestal altamente lucrativo possa levar a disputas de poder em torno dos lucrativos escoadouros de carbono, que por sua vez resultariam em mais corrupção, especulação, tomada de terras e conflitos. A madeireira Asia Pacific Resources International, por exemplo, desmata floresta e drena mangues na Indonésia para plantação de novas árvores. De repente, a empresa lançou um projeto-piloto de CO2 no qual planeja restaurar alguns mangues. Mas o projeto cheira a golpe, porque a Asia Pacific só conseguirá embolsar os lucros do comércio de CO2 em conseqüência de já ter destruído grandes trechos do ecossistema.
Para assegurar diversidade biológica a longo prazo, as partes da Convenção sobre Biodiversidade também estão promovendo métodos clássicos de preservação. Há cerca de 100 mil reservas naturais ao redor do globo. Segundo um recente estudo do WWF, a comunidade mundial gasta entre US$ 6,5 bilhões e US$ 10 bilhões por ano em áreas protegidas. Isto pode soar como muito dinheiro, mas na verdade está muito aquém do que é necessário.
Especialistas estimam que pelo menos o dobro será necessário para proteger a natureza a longo prazo. Policiais ambientais profissionais precisam monitorar as reservas. A educação é crítica para ajudar as populações locais a encontrar novas formas de viver em harmonia com a natureza. Microempréstimos são necessários para ajudar as pessoas a implantarem novos modelos de negócios compatíveis com o ambiente natural.
Conectando países que são ricos em biodiversidade com aqueles que são ricos em dinheiro
Mas uma das metas mais imediatas deve ser a criação de reservas adicionais nos hot spots de biodiversidade do mundo. Flasbarth, o estrategista de conservação do BMU, nutre grandes esperanças por uma iniciativa alemã chamada LifeWeb. O programa visa reunir países com grande biodiversidade com aqueles com muito dinheiro.
"Todo país pode usar o sistema para especificar que áreas protegeria e a que preço. A esperança é de que as partes interessadas então ofereceriam um lance pelo direito de pagar pela conservação", disse Flasbarth. A República Democrática do Congo, por exemplo, está viajando para a conferência em Bonn com uma oferta de colocar 140 mil quilômetros quadrados de floresta tropical sob proteção. Mas ela será capaz de atrair investidores para o projeto?
Os países membros da CDB planejam colocar 10% de todos os ecossistemas terrestres do planeta sob proteção até 2010, assim como 10% da superfície do oceano até 2012. É um plano ousado. A meta pode ser atingida em terra, apesar de que com grande esforço. Mas atingir essa meta nos oceanos é pura ilusão. Proteções rígidas só foram aplicadas a menos de 1% dos oceanos do mundo até o momento. De fato, os oceanos são onde os esforços internacionais de conservação e proteção de espécies têm fracassado mais evidentemente.
Declínio dos estoques de peixes
Alguns especialistas estimam que se a atual tendência de pesca excessiva continuar, a pesca oceânica comercial se tornará impossível até 2050. Enquanto isso, os países do mundo pagam mais de US$ 31 bilhões por ano para subsidiar a indústria pesqueira -e ao fazê-lo também pagam por um em cada cinco peixes pescados no mundo. Ao redor do globo, há cerca de 4 milhões de barcos pesqueiros caçando rotineiramente todo tipo de criaturas marinhas. Os especialistas dizem que para impedir a destruição das populações atuais, a frota pesqueira global teria que ser reduzida pela metade.
A pesca excessiva ameaça destruir ecossistemas inteiros. Segundo o estudo da Avaliação do Ecossistema do Milênio da ONU, 20% dos recifes de coral do mundo já foram destruídos, enquanto outros 20% estão seriamente comprometidos. O equipamento pesado usado pelas traineiras está destruindo bancos de corais no nordeste do Atlântico. Os pescadores de águas profundas estão constantemente arrancando as maravilhas naturais únicas das montanhas submarinas.
"Imagine se caçadores derrubassem florestas inteiras para pegar alguns poucos cervos", disse Carl Gustaf Lundin, chefe do Programa Marinho Global da Iucn, "as pessoas ficariam ultrajadas". Mas isto é precisamente o tipo de devastação causada pelo uso de redes de arrastão, explicou Lundin. "Muitas pessoas não têm idéia da destruição nos oceanos."
Zoólogos exigem controles mais rígidos das traineiras para limitar a pesca ilegal. Acima de tudo, eles esperam ver a criação de zonas onde a pesca seja totalmente proibida. O conceito que prevêem envolveria zonas de pesca intensiva alternadas com regiões protegidas, onde peixes jovens poderiam crescer até a maturidade sem serem perturbados e as populações poderiam se recuperar. A comunidade internacional ainda hesita quando se trata de estabelecer reservas marinhas e poucas leis governam os altos-mares. Mas as opções estão gradualmente mudando quando se trata de águas territoriais dos países.
Um plano para o Caribe
A meta de uma iniciativa que atualmente ganha forma no Caribe, por exemplo, visa colocar 20% de todos os ecossistemas no Mar do Caribe sob proteção até 2020. Em jogo estão 5 milhões de hectares de águas repletas de recifes de coral, mangues densos e os chamados Buracos Azuis, cavidades submarinas, freqüentemente circulares, dentro dos atóis e que podem chegar a 200 metros de profundidade.
Detalhes do plano ambicioso, conhecido como Caribbean Challenge Marine Initiative, será apresentada em Bonn nesta semana. Os países que assinaram até o momento incluem as Bahamas, Granada, República Dominicana e São Vicente e Granadinas. Grupos de conservação como a Nature Conservancy (TNC), com sede nos Estados Unidos, também estão envolvidos. O esforço se concentra em fundos de conservação, cujos rendimentos pagariam por guardas, barcos de patrulha, pesquisa e ensino ambiental.
"Os fundos devem ser assegurados por longo prazo, caso contrário a idéia toda fracassará após alguns poucos anos de falta de fundos", disse Eleanor Phillips, a diretora do programa para norte do Caribe do TNC. Ela ajuda a dirigir o projeto de seu escritório em Nassau, a capital das Bahamas. A cidade fica em New Providence, uma das ilhas do arquipélago das Bahamas. Os problemas de conservação enfrentados por grupos como o TNC estão concentrados em alguns poucos quilômetros quadrados em Nassau.
Os turistas, especialmente dos Estados Unidos, rotineiramente tomam a cidade. Eles vivem em hotéis de concreto ou em comunidades residenciais fechadas. Florestas de mangues inteiras, disse Phillips, são derrubadas para abrir espaço para as casas dos ricos. Mas as florestas são espaços de procriação para muitas espécies de peixes caribenhos. Diariamente no porto de Nassau, barcos pesqueiros trazem toneladas de garoupas e de concha rainha caribenha (conc), que são vendidos como especialidades da ilha em cada barraca e restaurante.
As duas espécies antes eram abundantes. As águas tropicais costumava estar repletas de cardumes enormes de garoupa. Em poucas horas, pescadores trazem centenas do peixe grande, que podem pesar até 25 quilos. A concha rainha era tão abundante que os moradores da ilha podiam colher uma refeição noturna completa mergulhando por alguns minutos na água azul do mar. Agora, pescadores como Eudie Rolle, freqüentemente encontrado sentado no cais do porto de Nassau atrás de uma mesa coberta com saborosos moluscos marinhos, se queixa de quão difícil está encontrar as belas conchas rosadas. Rolle pesca há 57 anos. "No passado", ele disse, "bastava pegarmos as conchas rainhas em água na altura da cintura. Mas agora meus filhos precisam navegar 240 quilômetros para encontrar alguma".
"Nós estamos muito preocupados", disse Michael Braynen, do Departamento de Recursos Marinhos do país. "A longo prazo, nós precisamos reduzir o número de pescadores nas Bahamas. Mas então teremos que oferecer alternativas para eles."
(Por Philip Bethge, Rafaela von Bredow e Christian Schwägerl, Deutsche Welle, tradução de George El Khouri Andolfato, UOL, 29/05/2008)