Todavia, Tamayo insistiu que o centro de pesquisa, que agora trabalha basicamente com universidades, ainda é "um modelo de sucesso". O instituto, disse Tamayo, ajuda a demonstrar como os países em desenvolvimento podem compartilhar as bênçãos da biotecnologia ao mesmo tempo que protegem sua própria biodiversidade. Uma parte das taxas de licenciamento que o INBio recebe é destinada à proteção das florestas costarriquenhas.
A Costa Rica já é considerada um país modelo dentro do movimento internacional de conservação. No próspero setor de ecoturismo do país, cerca de 1,5 milhão de turistas gastam perto de US$ 1,5 bilhão por ano para visitar as maravilhas naturais das florestas tropicais e florestas de montanha costarriquenhas. E proteger estas florestas foi elevado ao patamar de doutrina nacional na Costa Rica. Nos anos 70 e 80, madeireiros derrubaram quase 80% da floresta tropical costarriquenha. Hoje, mais da metade do país está novamente coberto por floresta.
Na parte sul do país, a densamente florestada Península de Osa se projeta no Pacífico. No interior da mata, nas montanhas acima da minúscula aldeia de Golfito, Jorge Marin Picado vigia 46 hectares de floresta primitiva. Um bando de araras vermelhas sobrevoa o local, onde o cheiro de vegetação em decomposição preenche o ar. Trepadeiras serpenteiam tronco acima de árvores gigantes. Picado, carregando um facão comum em seu cinto, é o administrador da "finca", ou fazenda, empoleirada ao longo da borda da cadeia costeira. Segundo um acordo que o proprietário da fazenda assinou com a agência florestal costarriquenha, o governo lhe paga US$ 350 por hectare por ano para que mantenha a floresta intacta e impeça qualquer um de roubar plantas ou cortar árvores ilegalmente.
Recompensando os agricultores por manterem as árvores intocadas
O governo chama o sistema de programa de "Serviços Ambientais" e os conservacionistas o consideram exemplar. Segundo o programa, o governo recompensa os proprietários por plantarem novas árvores ou deixarem a floresta existente intocada. "Nós queremos ampliar a área florestal e oferecer aos agricultores uma alternativa", disse Katia Alegria, da agência florestal. Como resultado, as terras em que até agora o gado pastava estão se tornando novamente florestas. Em vez de bananeiras e palmeiras, espécies locais como teca e guaritá estão crescendo nas novas e antigas florestas preservadas.
O programa é financiado com impostos sobre a venda de gasolina e fundos do Banco Mundial e do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility, GEF), para o qual contribuem os países membros da CDB. Mas a Costa Rica também espera no futuro obter lucro com o dióxido de carbono capturado pelas árvores.
De fato, a capacidade de capturar enormes quantidades de CO2 da atmosfera e armazená-las poderia significar a salvação das florestas nesta era em que o homem está desesperadamente em busca de formas de deter o aquecimento global. Pântanos também podem capturar quantidades substanciais de CO2. Recuperá-los e preservá-los "oferece uma forma custo-eficaz de coibir a mudança climática e proteger a diversidade", disse Steiner, o diretor-executivo do Pnuma. Esta também é uma oportunidade para a Alemanha. Pesquisadores da Universidade de Greifswald calcularam que a recuperação de um hectare de pântano na Alemanha e permitir que a floresta de carvalho nativa cresça resultaria na captura de 30 toneladas de CO2 por ano.
Os governos de países com grandes florestas tropicais, como Guiana, Indonésia, Brasil e Papua-Nova Guiné, se tornaram defensores particularmente entusiastas da idéia revolucionária de vender suas florestas como escoadouros de gases do efeito estufa. Se o plano funcionar, eles poderiam arrecadar bilhões, o que por sua vez poderia ser gasto protegendo as florestas.
Uma nova moeda para o ambientalismo
A moeda na nova era ambiental é chamada de "certificado florestal" e já existe um mercado potencial para o novo dinheiro verde. No sistema de comércio de emissões da UE, por exemplo, é alocado para as corporações industriais e empresas de energia direitos de poluição por dióxido de carbono conhecidos como certificados de CO2. Eles definem quanto dióxido de carbono as fábricas de uma determinada empresa podem emitir na atmosfera. Se as emissões de CO2 de uma empresa ultrapassarem seu limite alocado, ela deverá comprar certificados adicionais para compensar a diferença. Direitos de poluição não utilizados podem ser vendidos. Em outras palavras, os certificados têm verdadeiro valor monetário, que atualmente custa 25 euros por tonelada de CO2, mas poderá aumentar para 60 euros no futuro.
Os países com florestas tropicais estão altamente interessados em entrar neste crescente mercado. Na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Copenhague em 2009, poderá ser traçado o curso para o desenvolvimento de um mercado de certificados florestais. Grandes companhias de eletricidade, como a RWE da Alemanha, já estão aguardando. "As florestas são uma parte do sistema global de comércio de emissões que nos interessaria", disse Michael Fübi, o diretor de proteção climática da empresa. A empresa se beneficiaria ao atender as exigências de proteção climática mais rapidamente e a um custo mais baixo do que pela instalação de novas tecnologias. Mas a médio prazo, isto poderá não servir como um substituto para a modernização das usinas elétricas, disse Fübi.
Quanto dinheiro este sistema de certificados florestais geraria no final ainda não se sabe. Especialistas estimam que custaria US$ 10 bilhões por ano para realmente beneficiar as florestas do mundo. Caso contrário, seria bem mais lucrativo para os países tropicais derrubarem suas florestas para explorar a madeira.
"O corte de madeira produz US$ 100 milhões a US$ 500 milhões por ano em receita para Papua-Nova Guiné", disse Kevin Conrad, e emissário especial de Papua-Nova Guiné para proteção climática e conservação, acentuando o dilema do país. É preciso oferecer ao país mais do que este valor para tornar a proteção das florestas uma proposta atraente, "caso contrário a floresta desaparecerá -e acontecerá muito em breve".
Transformando matas em capital
No Brasil, a motosserra ainda está vencendo a conservação. Quase 20% dos 3,65 milhões de quilômetros quadrados da Floresta Amazônica do país já foram derrubados e transformados em pastos e plantações de soja. Após assumir o cargo em 2003, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, conseguiu reduzir a taxa de desmatamento de 28 mil para 12 mil quilômetros quadrados por ano. Ela introduziu novas regras que permitiam aos proprietários de florestas o corte de não mais que 20% de seus propriedades e impunham um congelamento de crédito aos infratores. Mas no começo do mês, Silva, um ícone do movimento global de proteção florestal, fez o anúncio surpreendente de que estava renunciando, dizendo estar cansada de "fazer o papel de um biombo verde" para o presidente Lula.
No momento, florestas mortas valem mais do que florestas vivas, e será necessário muito dinheiro para reverter isso. Mas há algumas poucas histórias iniciais de sucesso. O Banco Mundial, por exemplo, introduziu seu Fundo de Parceria de Carbono Florestal, um programa voltado a proteger simultaneamente o clima e o meio ambiente. Um dos projetos-modelo da parceria poderá em breve ser o de Hans Schipulle da Alemanha, que espera transformar a floresta tropical da Bacia do Congo em uma fonte de lucros.
Prevendo um crescente mercado para certificados florestais, o banco de investimento americano Merrill Lynch concordou recentemente em pagar para a província de Aceh, Indonésia, US$ 9 milhões por ano por quatro anos pela proteção da floresta tropical em sua reserva de Ulu Masen. A Canopy Capital, uma empresa com sede em Londres, gastou milhões para assegurar o valor que acredita que a floresta tropical de Iwokrama, Guiana, terá em breve para a humanidade. O diretor da Canopy, Hylton Murray-Philipson, explicou o conceito: "Ninguém pagaria nada por uma floresta intacta hoje, mas eu acredito que é extremamente provável que os mercados em breve terão uma visão diferente do valor da natureza". Especialistas prevêem que o comércio dos ativos naturais de florestas, pântanos e recifes de corais poderia gerar US$ 10 bilhões em receita em 2010.
Tamanhas transferências financeiras globais podem realmente promover mudanças? "Assim que o comércio de CO2 se traduzir em grandes somas de dinheiro, a pergunta que inevitavelmente surgirá é quem de fato é o proprietário da floresta", disse Tom Griffiths, que integra a organização de direitos humanos Forest Peoples Programme (programa dos povos da floresta). "São os investidores ou as pessoas que vivem na floresta?" Continua - leia a parte 5
(Por Philip Bethge, Rafaela von Bredow e Christian Schwägerl, Deutsche Welle, tradução de George El Khouri Andolfato, UOL, 29/05/2008)