Um clima de desconfiança aguarda hoje o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em sua estréia num fórum internacional. A maioria dos ambientalistas presentes na Conferência sobre Diversidade Biológica de Bonn, na Alemanha, vê na renúncia de Marina Silva um sinal de que a preservação da natureza não é prioridade do governo brasileiro.
A demissão da ministra cinco dias antes do início da conferência chegou a causar desconforto no governo alemão, que receberia de Marina a presidência do evento, já que o Brasil foi o anfitrião no último encontro, realizado em Curitiba em 2006. Sem a ministra, a transferência teve de ser feita pelo embaixador Raymundo Magno, da missão brasileira em Montréal.
Dono de um quinto da biodiversidade do planeta, o Brasil é um dos principais protagonistas do evento, o que aumenta a apreensão causada pela troca de ministros. Já no balcão de registro de participantes da Conferência, uma recepcionista indagou à reportagem da Folha o motivo da "triste" saída de Marina. A curiosidade iria se repetir durante todo o dia.
"Marina era mais que uma defensora do meio ambiente, era um símbolo da causa", diz o austríaco Michael Schmidlehner, presidente da ONG Amazonlink.org, com sede no Acre.
A importância que o Brasil dá ao encontro de Bonn pode ser comprovada por sua numerosa delegação, formada por técnicos dos ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura e das Relações Exteriores. Se dependesse do Itamaraty, as discussões manteriam o foco nos assuntos que já estão há anos na pauta, como estabelecimento de áreas de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável.
Os biocombustíveis, entretanto, tornaram-se uma das estrelas do encontro, e serão incluídos no documento que está sendo negociado. "O Brasil tentou evitar que o assunto entrasse na pauta, mas não conseguiu", diz Paulo Adário, do Greenpeace do Brasil.
Adário diz que a expansão da plantação de cana para a produção de álcool já está causando impacto ambiental no Brasil. Um exemplo: com o aumento do cultivo em áreas de pastagem, a pecuária é empurrada para a Amazônia.
O esforço do Itamaraty, entretanto, é enfatizar que o biocombustível feito de cana é sustentável, ao contrário de outros, como o de milho e de palma, que competem com a produção de alimentos e/ou destroem o meio ambiente.
O ministro interino do Meio Ambiente do Peru, Manuel Ernesto Alvarado, admitiu que nunca ouviu falar de Minc. Mas disse que a expectativa é que o Brasil assuma posições mais claras. "Chega de discursos ambíguos", disse Alvarado.
(Por Marcelo Ninio, Folha de São Paulo, 29/05/2008)