A mais importante instituição de desenvolvimento da América Latina lançou na última terça-feira (27) um programa de US$ 500 milhões no sentido de contribuir para amenizar o problema da alta dos preços dos alimentos na região. A medida ocorre em meio a crescentes preocupações internacionais com o potencial impacto político dos aumentos dos preços sobre as economias pequenas, pobres e vulneráveis da América Central e do Caribe.
O crédito do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) foi criado para ampliar o alcance e o tamanho dos chamados programas condicionais de transferência de dinheiro. Estes programas exigem que as famílias pobres visitem clínicas e mandem os filhos à escola para que possam receber os benefícios.
Os países beneficiados também serão capazes de usar o dinheiro para construir infra-estrutura, aumentar o acesso ao crédito e pagar por assistência técnica, medidas que aumentariam a produtividade rural e a produção de alimentos. Os preços dos alimentos em todo o mundo dobraram nos últimos dois anos, sendo que produtos básicos como milho, trigo e arroz subiram pelo menos 100%. Segundo o banco, em alguns países os pobres gastam até 84% do que ganham com a compra de comida.
"O risco para a região é bem real", diz Luis Alberto Moreno, presidente do BID. "O recente progresso na redução dos índices de pobreza como resultado da maior estabilidade financeira poderá ser minado caso não se faça nada".
Rebeliões após a disparada dos preços da comida e dos combustíveis no Haiti em abril último provocaram a renúncia do primeiro-ministro daquele país. Teme-se que outros países do Caribe e da América Central - a maioria dos quais importa petróleo, bem como grande parte dos alimentos de que necessitam - possam ser afetados por turbulências similares. El Salvador, Costa Rica e Honduras estão entre os menores países que adotaram programas de transferência de dinheiro semelhantes aos lançados por Brasil e México. Os países que não contam com tais programas podem usar o dinheiro do BID para criar planos similares.
Na semana passada o México aumentou a quantia que está pagando aos mais de cinco milhões de beneficiados pelo Oportunidades, o programa de transferência de dinheiro do país, com o objetivo específico de fazer frente à alta dos preços dos alimentos. Na semana passada o governo mexicano também foi forçado a remover as tarifas de importação sobre os alimentos básicos na tentativa de reduzir os preços dos alimentos produzidos no país. O governo também reduziu as tarifas de importação sobre alguns outros alimentos importados.
(Por Richard Lapper*, Financial Times, tradução UOL, 28/05/2008)
*Javier Blas contribuiu para esta matéria