“Álcool ou gasolina?”. Hoje, a pergunta feita pelo frentista já não faz mais tanto sentido, diante da chegada dos carros bicombustíveis ou flex. Porém, a simples existência dessa opção nos postos brasileiros representa o sucesso de programas como o Próalcool, iniciado em 1975, que tornaram o Brasil referência mundial na produção de combustíveis renováveis. Porém, somente 30 anos após sua criação é que o País ganhou um centro de referência nessa questão, o Pólo Nacional de Biocombustíveis, ligado a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.
“O Pólo nasceu com o conceito de catalisar os muitos esforços e pesquisas realizados pelo país afora com relação à biocombustíveis”, explica o coordenador do órgão, o professor Weber Amaral. Uma das diretrizes do Pólo é a de ser uma ponte entre as pesquisas e o setor produtivo ligado com a cadeia dos combustíveis originados de diferentes fontes de biomassa, como o girassol, amendoim, mamona, soja, entre outros. Por isso mesmo, foram estabelecidas parcerias com empresas do setor privado e instituições de pesquisa de vários países, como Holanda, França, Inglaterra, Suécia e Estados Unidos.
Na área de pesquisas, entre os diversos trabalhos desenvolvidos atualmente pelo Pólo estão desde mapeamentos da expansão da cultura de cana-de-açúcar até projetos que buscam a sustentabilidade das cadeias de produção de biodiesel. A produção de biocombustíveis gera uma série de resíduos e subprodutos que podem ser utilizados para aumentar a produtividade de todo o processo. Para Amaral, as destilarias precisarão se transformar em “biorefinarias do futuro”, diversificando sua produção, gerando produtos e coprodutos da cana, como açúcar e bioplásticos. “Além de agregar valor, isso diminui custos e a dependência em um só produto”, diz ele.
Além da produção sustentável, os maiores desafios para o biodiesel brasileiro, segundo ele, se encontram em velhos problemas, como o planejamento adequado a médio e longo prazos, e a melhoria da infra-estrutura de escoamento da produção, além da busca e consolidação de mercados globais para o álcool brasileiro.
Alimentos e biocombustíveis
O boom dos biocombustíveis, que ocorre não só no Brasil como em várias partes do mundo, está enfrentando seu primeiro grande questionamento. Até então, os combustíveis renováveis eram celebrados como a esperança que prometia diminuir a dependência dos países em relação ao petróleo e demais combustíveis fósseis e, conseqüentemente, as emissões de gases que causam o efeito estufa e colaboram com o aquecimento global. Porém, no começo deste ano, os biocombustíveis foram ao banco dos réus, acusados por países, ONGs e até mesmo autoridades das Nações Unidas de colaborarem para a crise mundial dos preços dos alimentos. O relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, chegou a dizer, em abril deste ano, que destinar áreas de cultivo de alimentos para a produção de biodiesel seria um “crime contra a humanidade”.
Uma afirmação exagerada, segundo o coordenador do Pólo. Para o professor Weber, esse argumento não vale para países como o Brasil, onde a destinação de terras para a produção de biodiesel não compete com a produção de alimentos. “O que houve foi que nos Estados Unidos 30% do volume de milho produzido foi destinado para a produção de biocombustível nos últimos três anos. Isso inflacionou o preço deste produto e puxou os preços de outros em cadeia”, explica ele.
(Por Francisco Angelo, USP online, 28/05/2008)