Durante sete longos anos, o presidente Bush se recusou a enfrentar o desafio da mudança climática e oferecer a liderança que esse país e o mundo precisam para reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa e evitar as conseqüências destrutivas do aquecimento global.
O Senado, além dos três pré-candidatos à presidência, terão a chance de assumir essa liderança. Na próxima semana o Senado irá analisar um projeto de lei proposto pelos senadores John Warner e Joseph Lieberman, que busca reduzir agressivamente as emissões de todos os setores da economia.
Bush, previsivelmente, se opõe à lei. Com uma pequena maioria democrata e as complexidades da própria lei, a chance desse projeto ser aprovado é pequena. Mesmo assim, um número majoritário de votos pode criar o terreno apropriado para o próximo Congresso e mandar a mensagem certa ao país e ao mundo de que a ajuda está a caminho.
Por esse motivo, é crucial que John McCain, Barack Obama e Hillary Rodham Clinton apareçam e votem nesse projeto de lei. Isso seria registrar seu apoio aos cortes obrigatórios nas emissões de gases causadores do efeito estufa. Agenda de campanha não é desculpa para não mostrar sua opinião nesse assunto importante para o futuro da nação.
O Senado lidou pela última vez com a mudança climática em 2003, quando 43 foram a favor de um projeto de lei patrocinado por McCain e Lieberman. Esse novo projeto é mais ambicioso. Ele pede uma redução de 70% nas emissões até 2050 - exigindo, em troca, uma enorme mudança na forma como o país cria, entrega e usa energia. A lei impõe um preço sobre o carbono para garantir que funcionará e cria uma rede de incentivos para novas tecnologias mais limpas, além de oferecer formas de combate a problemas há muito negligenciados, como o desflorestamento.
Desde a votação de 2003, os argumentos para a ação apenas se fortaleceram. Bush deixou uma impressão profunda de que cortes obrigatórios na emissão de carbono levariam o país à falência ou pelo menos deixariam danos irreparáveis ao aumentar o preço da energia.
Estudos sérios mostram que isso não é verdade e que um programa bem estruturado, com base no mercado, pode gerar ganhos econômicos positivos - energia mais eficiente, inovação tecnológica e redução da dependência do petróleo estrangeiro. Os mesmos estudos também explicam que o custo da estagnação irá diminuir os custos de se agir agora. Os defensores da lei precisam garantir que esse debate econômico seja mostrado de forma positiva.
O motivo científico para a ação, forte há cinco anos, está mais convincente agora. Análises do Painel Intergovernamental da Mudança Climática, entre outros estudos, deixaram claro que o mundo está aquecendo, as emissões geradas pelos homens são as grandes responsáveis e uma ação é necessária para evitar um enorme dano ambiental. Bush já não pode negar a ciência. O que ele continua a resistir é a necessidade de se comprometer e dar uma resposta. O Senado pode entrar em uma nova era de liderança nos Estados Unidos na semana que vem.
(The New York Times, Último Segundo, 29/05/2008)